Conexões Políticas, Finanças e a Intrincada Rede do Crime Organizado no Brasil
O cenário político brasileiro é frequentemente marcado por uma complexa teia de relações que misturam interesses financeiros, campanhas eleitorais e até mesmo repercussões na segurança pública. Uma análise aprofundada revela como essas conexões podem moldar o panorama nacional, desde a influência de figuras-chave nas esferas do poder até as origens de facções criminosas que desafiam o Estado.
A Rede de Influência: Francisco Kertész e as Conexões com o Governo
Francisco Kertész, figura conhecida no meio político e publicitário, mantém um elo significativo com o atual governo. Sua proximidade não se limita à sociedade com o ministro da propaganda, Sidônio Palmeira, mas se estende a uma notável movimentação financeira. A agência de Kertész, Macaco Gordo, é um ator proeminente no cenário de comunicação política, com um histórico de participação em diversas campanhas eleitorais.
Investimentos Políticos: Doações e Contratos com Campanhas de Esquerda
As relações financeiras de Francisco Kertész e sua agência transcendem o âmbito federal, alcançando importantes figuras e campanhas da esquerda brasileira. A lista de doações realizadas pela agência ou em seu nome é bastante diversificada, indicando uma estratégia consistente de investimento político ao longo dos anos. Entre os beneficiários, destacam-se nomes de peso:
- Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos, em 2020, durante suas respectivas campanhas eleitorais.
- Dilma Rousseff, em 2018, período em que a ex-presidente buscava um novo mandato.
- Uma doação para Geraldo Júnior, atual vice-governador da Bahia, na eleição de 2016, que marcou um ponto de apoio em uma importante disputa estadual.
- A estreia em doações, ou como alguns interpretam, em “investimentos políticos”, ocorreu em 2006, com o deputado estadual Edmon Lucas, estabelecendo um padrão que seria seguido nos anos posteriores.
Além das doações diretas, a Macaco Gordo tem sido uma beneficiária significativa de recursos públicos e de campanhas eleitorais. A agência teria recebido cerca de R$12 milhões de estatais, o que ressalta a dimensão de suas operações e a amplitude de sua influência no setor público. A parceria com Sidônio Palmeira no governo reforça essa percepção de um ecossistema interligado entre comunicação, política e finanças.
A Trajetória da Macaco Gordo em Campanhas Eleitorais
A experiência da Macaco Gordo no ambiente eleitoral é notória e remonta a mais de uma década. Sua primeira grande atuação documentada foi em 2012, quando trabalhou na campanha de seu pai, Mário Kertész, ex-prefeito de Salvador, consolidando sua expertise no marketing político.
A agência não apenas doou para campanhas, mas também faturou somas consideráveis prestando serviços. Em 2014, por exemplo, além de uma doação modesta de R$2 mil ao deputado petista Robinson Santos (BA), a empresa firmou um contrato expressivo com a campanha de Rui Costa para o governo baiano, recebendo R$179,8 mil. A parceria com Costa se repetiu em 2018, garantindo à agência mais R$251,5 mil, demonstrando a confiança e a recorrência dos serviços prestados.
Mais recentemente, a Macaco Gordo continuou ativa no cenário eleitoral, fechando contratos importantes com outros candidatos. Em 2016, a agência trabalhou para a campanha de Alice Portugal, recebendo R$100 mil. No ano passado, nas eleições, assinou contrato com o petista Zé Neto, que lhe rendeu R$200 mil. Esse histórico robusto sublinha o papel central da agência de Kertész na comunicação política, especialmente para candidatos e partidos do campo da esquerda.
O Berço do Crime: Como o “Comando Vermelho” Nasceu no Sistema Carcerário
Enquanto as esferas do poder discutem financiamento de campanhas e influência política, o país enfrenta desafios de segurança pública de proporções alarmantes. A recente onda de violência no Rio de Janeiro, com ataques atribuídos ao Comando Vermelho (CV), reacende o debate sobre as origens e a evolução das facções criminosas no Brasil. É inegável que o Comando Vermelho se tornou um dos legados mais complexos e desafiadores para o país, e sua gênese é frequentemente associada a um período conturbado do sistema carcerário brasileiro.
Confluência Carcerária: Esquerda e Bandidos Comuns na Frei Caneca
A narrativa sobre a criação do CV aponta para o antigo presídio da Frei Caneca, no Rio de Janeiro, como um ponto de inflexão. Nos anos 1970 e início dos 1980, este e outros presídios abrigavam tanto criminosos comuns quanto presos políticos, muitos deles militantes de esquerda detidos por assalto e sequestro durante o regime militar. Essa convivência forçada teria sido um terreno fértil para a troca de experiências e conhecimentos.
A teoria sustenta que, nesse ambiente, houve uma suposta “conivência” ou interação entre os dois grupos. Os presos políticos, com sua bagagem de organização, disciplina e ideologia de guerrilha, teriam inadvertidamente (ou não) influenciado criminososos comuns. Um dos personagens-chave dessa fase inicial foi um indivíduo conhecido como Bagulhão, sequestrador, assaltante e traficante. Ele é creditado como o criador da “Falange Vermelha”, um grupo que, embora com um lema aparentemente “lacrador” e enganoso de “paz, justiça, liberdade”, seria o embrião do que viria a ser o Comando Vermelho.
A Consolidação do “Reino do Crime”
A articulação dentro do presídio da Frei Caneca teria levado à aliança de Bagulhão com outros dois criminosos notórios, transformando a “Falange” no que se tornaria o Comando Vermelho. Essa transição marcou a adoção de uma estrutura mais organizada e hierárquica, inspirada, segundo alguns relatos, nas noções de guerrilha e táticas de resistência aprendidas ou observadas junto aos presos políticos. Essa nova organização permitiu à facção crescer exponencialmente.
Outro figura central nesse processo foi o “Professor”, outro dos fundadores do CV. Descrito como alguém que se “posava de intelectual”, ele era o responsável por redigir petições em favor dos criminosos e, inclusive, chegou a publicar um livro. Essa capacidade de articulação e a adoção de métodos mais sofisticados de comunicação e organização foram cruciais para a ascensão do Comando Vermelho.
Com o tempo, o CV passou a aplicar táticas de dominação e expansão, eliminando rivais e, conforme o texto original sugere, “se infiltrando” em diversos setores da sociedade, como o meio artístico, o que demonstra a sofisticação e a abrangência de suas operações. A facção evoluiu de uma aliança carcerária para uma poderosa organização criminosa, com ramificações em todo o país, impondo um desafio constante às forças de segurança e à sociedade brasileira.
O Rio de Janeiro em Chamas: Repercussões e Análise da Crise
O ataque recente às forças de segurança no Rio de Janeiro, que resultou em um elevado número de mortes, jogou novamente luz sobre a crise de segurança que assola o estado. O episódio levantou uma série de questionamentos e críticas sobre a atuação governamental e judicial diante do crime organizado.
Declarações Controversas e suas Implicações
A senadora Tereza Cristina (PP-MS) expressou seu lamento pela situação, mas fez questão de recordar uma declaração polêmica do presidente durante uma viagem ao exterior, onde ele teria afirmado que “traficantes são vítimas”. Essa fala gerou forte repúdio em setores da sociedade e da política, que a interpretaram como um endosso ou uma relativização da gravidade das ações criminosas, especialmente em um momento de escalada da violência. A percepção é que tais declarações podem minar o trabalho das forças de segurança e desmoralizar aqueles que combatem o crime na linha de frente.
Ações Policiais, Judiciais e o Cenário Político
A resposta à operação policial no Rio de Janeiro também gerou debates. Procuradores agiram rapidamente para interpelar o governo do Rio de Janeiro sobre a operação, questionando os protocolos e a letalidade do confronto com os criminosos. Contudo, essa agilidade não é vista com a mesma intensidade em outros contextos, como na análise de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo críticos, dificultam a atuação das forças de segurança nas comunidades e favelas, impondo restrições que beneficiariam o crime organizado. Essa dualidade de tratamento gera frustração e questionamentos sobre a equidade do sistema judicial.
No âmbito político, circula entre parlamentares de oposição em Brasília uma suspeita grave: a de que o governo federal teria deliberadamente negado ajuda ao governo do Rio de Janeiro no combate ao crime. O objetivo, segundo essa teoria, seria permitir que a crise se agravasse, criando assim um pretexto para uma intervenção federal no estado. Essa estratégia, se verdadeira, representaria uma jogada política de alto risco, utilizando a segurança pública como moeda de troca para ganhos de poder.
Ainda sobre a crise no Rio, foi notado que, enquanto a cidade vivia momentos de terror, o presidente estava em viagem à Ásia. A escolha de retornar em um avião KC-30, que não oferece conexão de internet, significou que o petista estaria offline e, consequentemente, não ciente da gravidade e da extensão dos acontecimentos em tempo real. A falta de comunicação imediata durante uma crise dessa magnitude levantou críticas sobre a prontidão e a capacidade de resposta da mais alta liderança do país.
Breves Notas sobre Cenários Políticos, Jurídicos e Internacionais
Além dos grandes temas que dominam o noticiário, há sempre uma série de acontecimentos menores, porém igualmente reveladores, que compõem o quadro político e social do Brasil e do mundo.
Cenário Eleitoral de Bolsonaro
A situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro continua a ser um ponto de atenção. No que tange a um de seus processos, a previsão é de um desfecho desfavorável. A condenação parece ser um caminho irreversível, com expectativas de que qualquer recurso será rejeitado por unanimidade. A hipótese de um voto divergente, como o do ministro Luiz Fux, não se mostra suficiente para alterar o panorama, consolidando a perspectiva de uma derrota jurídica sem precedentes para o ex-mandatário.
O “Viva Voz” na CPMI do INSS
Uma curiosidade marcou os trabalhos da CPMI do INSS. O relator Alfredo Gaspar (União-AL) ofereceu a Henrique Traugott Binder Galvão a oportunidade de evitar a convocação de um colega. Bastava que Galvão ligasse para a pessoa e explicasse alguns pontos cruciais. A cena inusitada se desenrolou quando o piloto, ligado à Conafer, passou o telefone para a mãe, e o depoimento se deu em viva-voz, para surpresa dos presentes na comissão. Um momento que revelou a informalidade, por vezes, presente até em ambientes de investigação parlamentar.
Georreferenciamento e Privacidade no TST
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) tomou uma decisão que reacendeu o debate sobre privacidade no ambiente corporativo. A corte liberou o uso de geolocalização para monitorar se funcionários de laboratórios e bancos estavam de fato trabalhando durante suas jornadas. A medida, que visa comprovar horas extras e presença, gerou forte reação por parte dos trabalhadores, que alegam “violação de privacidade”. A decisão coloca em pauta o delicado equilíbrio entre o direito do empregador de fiscalizar e o direito do empregado à intimidade, especialmente com o avanço das tecnologias de rastreamento.
Diplomacia e Propaganda: A China no Brasil
No âmbito das relações internacionais, a Embaixada da China no Brasil tem promovido uma campanha paga na rede social X para divulgar os objetivos da “Quarta Sessão Plenária do 20º Comitê Central do Partido Comunista da China”. Entre os pontos promovidos, destaca-se o “fortalecimento do sistema de segurança nacional” chinês. A iniciativa revela a estratégia de Pequim em usar plataformas globais para comunicar suas políticas internas e influenciar a percepção pública em outros países, incluindo o Brasil, sobre temas que são caros à sua agenda política e de segurança.
Pergunta para quem manda
Em meio a tantos acontecimentos e debates sobre segurança, uma pergunta ecoa para os gestores públicos: Proibir a atuação da polícia e, em seguida, ameaçar o chefe da corporação, tudo isso após um aumento acentuado da criminalidade, pode ser considerada uma estratégia eficaz?
Poder Sem Pudor: Uma Dose de Humor Político
Até o olho era gordo
O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) protagonizou uma história hilária que seus amigos adoram recordar. Antes de uma cirurgia que o fez perder dezenas de quilos no início dos anos 2000, Jefferson decidiu se pesar em uma farmácia. Depositou a moeda, subiu na balança diante de uma pequena plateia curiosa de magros e falsos magros. Sorridente, sua expressão mudou ao ler o que a máquina imprimiu: “Favor subir um de cada vez.” Um momento de autocrítica involuntária que rendeu boas risadas.