Praça de São Pedro Repleta para Início do Pontificado de Leão XIV
A Praça de São Pedro despertou vibrante neste domingo (18), com milhares de fiéis que chegaram a partir das seis da manhã. Eles estavam ansiosos para assistir à missa solene que simboliza o início oficial do pontificado de Leão XIV. Apesar das expectativas de um público ainda maior, mais de 150 mil pessoas enfrentaram o sol romano, agitando bandeiras do Peru e dos Estados Unidos, em homenagem à dupla nacionalidade do novo pontífice.
Entre cânticos e aclamações, com destaque para os fervorosos gritos de “U.S.A.”, o Papa Leão XIV fez sua entrada triunfal na praça a bordo do papamóvel, próximo à colunata à esquerda da Basílica de São Pedro. A cerimônia, que ocorreu conforme o planejado, teve início às dez da manhã, reunindo mais de 150 delegações internacionais.
Rituais de Início do Pontificado
O rito começou com a descida de Leão XIV, acompanhado pelos Patriarcas das Igrejas Orientais, à cripta sob a Basílica para uma oração no túmulo de São Pedro. Em seguida, ele se uniu à procissão dos cardeais, precedida pelos diáconos que carregavam o pálio, o Anel do Pescador e o Evangeliário, em direção ao altar montado no átrio da Basílica.
Após a proclamação do Evangelho, ocorreram os ritos centrais de início do pontificado. O cardeal diácono Mario Zenari colocou o pálio sobre os ombros de Leão XIV, enquanto o cardeal presbítero Fridolin Ambongo Besungu recitou uma oração. O Anel do Pescador foi entregue pelo cardeal bispo Luis Antonio Tagle. Em um gesto de obediência e reconhecimento, três cardeais representando a América e a Oceania – Frank Leo, Jaime Spengler e John Ribat – beijaram o anel, seguidos por representantes de várias ordens religiosas e leigos.
Homilia e Continuidade Espiritual
Durante a celebração, destacou-se a tapeçaria de Rafael, “A Pesca Milagrosa”, que adornava a entrada principal da Basílica de São Pedro. A obra serviu como poderosa imagem para a homilia de Leão XIV, que evocou a passagem bíblica em que Jesus orienta Pedro a lançar as redes. “Assim nos conta o Evangelho que nos leva ao lago de Tiberíades, o mesmo onde Jesus começou a missão recebida do Pai: ‘pescar’ a humanidade para salvá-la das águas do mal e da morte”, declarou o pontífice. Ele enfatizou que essa missão agora é responsabilidade da Igreja: “lançar uma e outra vez as redes para submergir nas águas do mundo a esperança do Evangelho, navegar no mar da vida para que todos possam reencontrar-se no abraço de Deus”.
Em sua homilia, Leão XIV também estabeleceu uma continuidade clara com o pontificado de seu antecessor, Francisco. “Durante a missa senti fortemente a presença espiritual do Papa Francisco”, confessou, em um dos momentos mais emocionantes do discurso. Ele recordou o período de luto após a morte de Francisco, comparando os fiéis a “ovelhas sem pastor”, mas ressaltou a certeza de que “o Senhor nunca abandona seu povo”.
Mensagem de Amor e Unidade
Essa gratidão não foi apenas pessoal, mas também doutrinal. Leão XIV pareceu consolidar a visão de uma Igreja “em saída” proposta por Francisco, focando em duas palavras-chave: amor e unidade. “Fui eleito sem nenhum mérito, e com temor e tremor venho a vocês como um irmão que quer fazer-se servidor de sua fé e de sua alegria, caminhando junto a vocês pela senda do amor de Deus, que nos quer unidos como uma só família. Amor e unidade: estas são as duas dimensões da missão confiada a Pedro por Jesus.”
O novo pontífice também traçou paralelos com um passado mais distante, citando Leão XIII, o papa da Rerum Novarum, como inspiração para o nome papal. Retomando uma questão central de seu predecessor, Leão XIV indagou: “Irmãos, irmãs, esta é a hora do amor. A caridade de Deus, que nos faz irmãos entre nós, é o coração do Evangelho, e com meu predecessor Leão XIII, hoje podemos perguntar-nos: se este princípio ‘prevalecesse no mundo, não cessariam de imediato todos os conflitos e não voltaria talvez a paz?’”
Com essa citação como ponto de ligação, Leão XIV conectou a mensagem espiritual a um diagnóstico geopolítico contundente. Ele expressou preocupação com o sofrimento causado pela guerra, mencionando a fome em Gaza, a violência em Myanmar e a “martirizada Ucrânia”, que, segundo ele, “espera negociações por uma paz justa e duradoura”. Após a missa, Leão XIV recebeu o presidente ucraniano Volodímir Zelensky para um encontro privado, e antes da cerimônia, reuniu-se com a presidente do Peru, Dina Boluarte.
Visão para o Futuro da Igreja
Por trás do tom pastoral, Leão XIV sinalizou um posicionamento diante de um cenário global marcado pela polarização e por uma economia que “explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres”, conforme denunciou em sua homilia. O novo pontífice parece propor uma nova abordagem, baseada no amor e na unidade.
“Este gostaria que fosse nosso primeiro grande anselo”, afirmou o Papa, “uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se converta em fermento de um mundo reconciliado”. E acrescentou: “Este é o espírito missionário que deve animar-nos, sem encerrar-nos em nosso pequeno grupo nem sentir-nos superiores ao mundo; estamos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize essa unidade que não anula as diferenças, mas que valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo”.
Com esses gestos e palavras, Leão XIV não apenas inaugurou seu pontificado, mas também apresentou um esboço de seu programa para a Igreja: um caminho que acolhe o legado de seus antecessores, responde às urgências do presente e reivindica o amor e a unidade como respostas concretas em tempos de fragmentação.
