Operação Contenção: Capixabas Alvos em Batalha Contra o Crime Organizado no Rio
A Operação Contenção, deflagrada no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, no final de maio, trouxe à tona a complexa teia do crime organizado que se estende para além das fronteiras estaduais. No Espírito Santo, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) divulgou um balanço detalhado dos indivíduos capixabas envolvidos na ação, revelando que três foram mortos em confronto e outros três foram presos, todos procurados pela justiça em seu estado de origem.
A incursão policial, ocorrida na terça-feira, 28 de maio, visava desarticular grupos criminosos e capturar foragidos que haviam buscado refúgio na capital fluminense. A atualização das informações pela Sesp, na sexta-feira, 31 de maio, jogou luz sobre a dimensão do problema e a necessidade de uma atuação integrada das forças de segurança para combater a criminalidade interestadual.
Os Confrontos Fatais e as Investigações em Curso
Entre os mortos na operação, foram identificados Alisson Lemos Rocha, conhecido como Russo, Jeanderson Bismarque Soares de Almeida e Fabian Alves Martins. As investigações da Polícia Civil do Espírito Santo já apontavam para o envolvimento desses indivíduos em graves delitos em suas respectivas cidades de origem.
Alisson Lemos Rocha: O Russo e a Teia do Tráfico na Serra
Alisson Lemos Rocha, residente de Nova Carapina, na Serra, era uma figura conhecida nos registros policiais capixabas. Ele estava sob investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, com suspeitas de seu envolvimento direto em atividades de tráfico de drogas e, mais gravemente, em um homicídio ocorrido em abril deste ano. A ligação de Alisson com o crime organizado local o tornava um alvo prioritário para as autoridades, que buscavam desmantelar as estruturas criminosas que atuam na região metropolitana do Espírito Santo.
Jeanderson e Fabian: A Dupla de Cachoeiro e a Fuga para o Rio
Jeanderson Bismarque Soares de Almeida e Fabian Alves Martins eram ambos originários de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Espírito Santo, e eram apontados pela Sesp como comparsas nas atividades criminosas. Ambos tinham mandados de prisão em aberto relacionados a um homicídio que chocou a cidade em fevereiro de 2024. A gravidade dos crimes e a pressão das operações da Polícia Civil do ES teriam sido o catalisador para a fuga da dupla para o Rio de Janeiro, buscando refúgio em um dos maiores complexos de favelas do país, o Complexo do Alemão.
Fabian, em particular, era descrito pelas autoridades como uma “peça de destaque” no tráfico local de Cachoeiro de Itapemirim. Essa designação sugere que ele possuía um papel relevante na hierarquia do crime, talvez com alguma liderança ou influência sobre as operações de distribuição de entorpecentes na região. A sua presença no Rio de Janeiro, juntamente com Jeanderson, evidencia a estratégia comum de criminosos de se deslocarem para grandes centros urbanos, onde a anonimidade e a presença de outras facções podem, paradoxalmente, oferecer uma sensação de segurança.
O Contraponto da Família: A Versão da Mãe de Fabian
A versão oficial das autoridades, contudo, foi veementemente contestada pela mãe de Fabian Alves Martins. Em um desabafo emocionado, ela refutou o envolvimento do filho com o crime, afirmando que ele era um trabalhador e que a família não tinha necessidades financeiras que o levassem a esse caminho. “Meu filho era bobo, trabalhava, e a nossa família não precisa de dinheiro. Não somos ricos, mas também não precisávamos de nada”, declarou a mãe, em uma fala que expõe a dor e a incredulidade das famílias diante de tais acusações.
Este contraste entre a narrativa policial e o relato familiar é um elemento recorrente em casos envolvendo a morte de indivíduos em operações policiais, levantando questões sobre a presunção de culpa e o direito à defesa, mesmo post-mortem. A versão da mãe sublinha a complexidade social por trás de cada vida perdida e a dificuldade em aceitar que um ente querido possa estar envolvido em atividades ilícitas, especialmente quando a percepção familiar difere radicalmente das investigações oficiais.
Os Foragidos Capturados: A Lista de Procurados pela Justiça Capixaba
Além dos confrontos fatais, a Operação Contenção resultou na prisão de três outros capixabas, todos com pendências judiciais em seu estado natal. A captura desses indivíduos no Rio de Janeiro é um testemunho da eficácia da inteligência policial e da colaboração entre os estados na busca por foragidos.
Rauflan Santos Costa: Tráfico e Armas em Rio Bananal
Rauflan Santos Costa, natural de Rio Bananal, era um dos alvos com um histórico de envolvimento com o crime. Ele possuía um mandado de prisão em aberto por uma série de crimes graves, incluindo tráfico de entorpecentes, associação para o tráfico e porte ilegal de arma de fogo. A sua prisão representa a retirada de mais um elemento perigoso das ruas, contribuindo para a segurança pública.
Cleyton Silvestre Pereira e Cleison Souza Jesus: Evadidos do Sistema Prisional de Linhares
A lista de presos se completa com Cleyton Silvestre Pereira e Cleison Souza Jesus, ambos oriundos de Linhares. A situação deles é particularmente relevante, pois eram considerados evadidos do sistema prisional, o que significa que haviam fugido da custódia ou não retornado após saídas temporárias. Cleyton estava foragido desde abril de 2025 – uma data que sugere um possível erro de digitação na fonte original, provavelmente referindo-se a um período anterior a maio de 2024 – enquanto Cleison havia escapado desde dezembro de 2022.
A fuga de presos é um desafio constante para as autoridades de segurança, e a recaptura de indivíduos como Cleyton e Cleison, especialmente em outro estado, demonstra a persistência das forças policiais em garantir que a justiça seja cumprida. A presença de foragidos em grandes centros como o Rio de Janeiro muitas vezes se associa à tentativa de recomeçar a vida criminosa em um novo ambiente ou de se integrar a facções já estabelecidas.
A Luta Contínua Contra o Crime Organizado Interestadual
A Operação Contenção, com suas mortes e prisões, sublinha a dinâmica complexa e perigosa do crime organizado no Brasil. A mobilidade dos criminosos entre estados, buscando refúgio ou expandindo suas operações, exige uma resposta igualmente coordenada e articulada das forças de segurança. A atuação da Sesp do Espírito Santo em conjunto com as autoridades fluminenses, mesmo que por meio de compartilhamento de informações, é um exemplo da necessidade dessa integração.
A presença de capixabas no Complexo do Alemão, um dos epicentros da criminalidade no Rio de Janeiro, serve como um alerta para a interconectividade das redes criminosas. Seja para o tráfico de drogas, homicídios ou para fugir da justiça, a escolha por se esconder em grandes favelas reflete a percepção de que esses locais podem oferecer uma proteção momentânea contra a perseguição policial. Contudo, operações como a Contenção demonstram que o braço da lei, com inteligência e estratégia, pode alcançar esses refúgios, reafirmando o compromisso de combate ao crime e de responsabilização dos envolvidos, independentemente de onde se escondam.
O episódio reforça a importância de políticas de segurança pública que contemplem não apenas a repressão, mas também a investigação e a prevenção, atuando de forma estratégica para desmantelar as organizações criminosas em todas as suas frentes. A batalha contra o crime organizado é uma luta diária, que exige vigilância constante e cooperação irrestrita entre todas as esferas do poder público para garantir a segurança da sociedade.