Militar que Ensinou o CV a Atacar Polícia com Drones e Bombas: Quem é Ele?

Militar que Ensinou o CV a Atacar Polícia com Drones e Bombas: Quem é Ele?

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Ex-Militar de Elite: De Farda da Marinha a ‘Engenheiro’ do Tráfico no Rio

A história de Rian Maurício Tavares Mota, um ex-integrante da Marinha do Brasil, ilustra uma preocupante fusão entre o treinamento militar de ponta e a sofisticação crescente do crime organizado no país. Antes de ser identificado como o “engenheiro militar” do temido Comando Vermelho (CV), Mota vestiu a farda azul-marinho e passou por cursos de alta exigência, considerados entre os mais rigorosos das Forças Armadas brasileiras. Hoje, no entanto, seu nome figura em uma lista de prisioneiros de alta periculosidade, programados para transferência a presídios federais de segurança máxima. Esta medida drástica vem em resposta a uma megaoperação recente que sacudiu os Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, revelando a extensão da sua influência e a gravidade de suas ações.

Mota é o principal suspeito de ter introduzido uma tecnologia bélica estratégica ao universo do crime organizado: drones adaptados para lançar granadas. Essa inovação representa um salto perigoso na capacidade de ataque das facções, transformando equipamentos de vigilância em ferramentas de guerra aérea, com um potencial devastador nos confrontos urbanos e nas operações policiais.

A Transformação de Equipamentos de Espionagem em Armas Letais

A Polícia Federal (PF) aponta que Rian Maurício Tavares Mota utilizou seus conhecimentos técnicos especializados, adquiridos durante anos de serviço na Marinha, para converter drones comerciais e de espionagem em armamentos aéreos de ataque. Essa adaptação não é trivial; exige um profundo entendimento de mecânica, eletrônica, balística e controle remoto, habilidades que Mota, um ex-militar de elite, obviamente possuía.

Interceptações telefônicas, que fazem parte do vasto inquérito da PF, revelam a profundidade da sua atuação. Nesses áudios, Mota não apenas dava orientações genéricas, mas fornecia instruções detalhadas e precisas a integrantes da cúpula do CV. Entre os destinatários de seu “know-how” estava Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, que era o principal alvo da megaoperação e, à época, ainda se encontrava foragido. A expertise de Mota, portanto, era diretamente acessível e aplicada pelos mais altos escalões da facção.

Em um dos áudios, Mota descreve como adaptar o drone: “É só botar o dispensador. O drone segura o pino e libera a granada quando chega no alvo.”

Essa descrição sucinta, mas técnica, demonstra a clareza e a praticidade de suas instruções, revelando uma mente capaz de simplificar processos complexos para uso em campo. A PF afirma que a utilização desse tipo de equipamento por parte do Comando Vermelho já impediu a captura de líderes da facção em diversas ações policiais anteriores. Os drones, com sua capacidade de vigilância aérea e ataque remoto, forneciam uma camada extra de proteção e inteligência tática, dificultando o avanço das forças de segurança e permitindo a fuga de criminosos importantes.

A inserção dessa tecnologia representa uma mudança paradigmática na dinâmica do confronto entre o Estado e o crime organizado. Não se trata mais apenas de armas de fogo convencionais, mas de uma guerra assimétrica onde o inimigo pode operar de cima, com precisão e minimizando riscos diretos.

Drones e a Escalada da Guerra Urbana no Rio de Janeiro

A realidade dos drones armados veio à tona de forma brutal durante a operação policial realizada na terça-feira (28 de outubro). Policiais em campo relataram ter sido atacados com artefatos explosivos arremessados de drones, uma tática que remete diretamente aos campos de batalha em guerras internacionais, como as que ocorrem na Ucrânia e no Oriente Médio. Este cenário de “guerra” não é uma hipérbole.

O governador Cláudio Castro (PL), ao comentar a situação, não poupou palavras para descrever a capacidade bélica inédita do crime organizado no Rio. “Foi um cenário de guerra”, declarou, enfatizando a gravidade dos confrontos e a utilização de armamentos e táticas que elevam o patamar da violência urbana a níveis antes impensáveis em um contexto doméstico.

O governador Cláudio Castro (PL) disse que o crime organizado opera com capacidade bélica inédita no Rio: “Foi um cenário de guerra.”

A presença desses drones armados tornou ainda mais arriscado e complexo o avanço das tropas pelas áreas de mata e becos apertados que caracterizam os complexos de favelas. Em ambientes densamente urbanizados e com topografia acidentada, como o Complexo do Alemão e da Penha, a proteção da cobertura vegetal e a imprevisibilidade de ataques aéreos a partir de drones representam um desafio imenso para as forças de segurança. A dificuldade de patrulhamento e reconhecimento nessas áreas foi agravada, contribuindo para o cenário de intensos confrontos e, lamentavelmente, para o elevado número de fatalidades – dezenas de corpos foram localizados após a ação, muitos deles em regiões de mata de difícil acesso.

A capacidade de lançar explosivos de cima, com relativa impunidade e a distância segura para os operadores, confere ao tráfico uma vantagem tática que exige uma reavaliação completa das estratégias de combate e da segurança dos agentes em campo.

A Trajetória de um Profissional de Elite a Mentor do Tráfico

A prisão de Rian Maurício Tavares Mota, ocorrida em 2024 dentro de um quartel da Marinha, é um testemunho da sua dupla vida e da sua perigosa infiltração. Ele integrava o Comando da Força de Superfície, um setor vital responsável por parte da estrutura naval do país, que lida com operações marítimas, logística e segurança costeira. Além disso, Mota havia concluído o curso de mergulhador, uma formação que é sinônimo de excelência e altíssima qualificação dentro das Forças Armadas.

Ser um mergulhador militar de alta qualificação na Marinha do Brasil implica em um treinamento extenuante, que exige não apenas vigor físico excepcional, mas também resiliência mental, capacidade de planejamento estratégico, habilidades em reconhecimento subaquático, demolição e operações clandestinas. Essas são as características de um profissional de elite, cujo conhecimento e disciplina deveriam estar a serviço da nação.

No entanto, paralelamente ao seu trabalho como militar exemplar, as investigações das autoridades revelaram que Mota se dedicava a atividades ilícitas. Ele negociava peças para drones, oferecia orientações técnicas complexas e até mesmo compartilhava vídeos de guerra com criminosos do Comando Vermelho. Esta “consultoria” fornecida por Mota transcendeu a simples venda de equipamentos; ele atuava como um verdadeiro mentor. A investigação aponta que ele não apenas estruturou todo o setor de drones do CV, mas também projetou métodos de ataque aéreo contra forças policiais e, o que é mais grave, ajudou a treinar operadores dentro das comunidades para manusear e empregar esses equipamentos de forma eficaz em combate.

A lealdade de Mota foi desviada de seu juramento militar para o serviço de uma facção criminosa, transformando-o de um ativo valioso para o Estado em uma ameaça substancial à segurança pública.

Da Prisão para o Isolamento Máximo

Após a devastadora megaoperação que resultou em 121 mortes e escancarou a capacidade bélica do crime organizado, o governo do Rio de Janeiro agiu rapidamente para solicitar a remoção de Rian Maurício Tavares Mota para o sistema prisional federal. Esta é uma medida de extrema gravidade, reservada exclusivamente para líderes de facções com alto poder de articulação e que representam uma ameaça significativa mesmo quando encarcerados em unidades estaduais.

O sistema prisional federal brasileiro foi concebido para isolar completamente os detentos de seu ambiente externo, cortando qualquer linha de comunicação com as suas respectivas organizações criminosas. Isso impede que continuem a dar ordens, planejar crimes ou exercer influência sobre o comando das facções de dentro da prisão. O objetivo é desarticular o crime organizado, atacando seus cérebros e líderes estratégicos.

Além de Mota, outros nove alvos considerados de “alta periculosidade” também devem ser transferidos para presídios federais de segurança máxima. Essa leva de transferências coletivas sublinha a urgência e a seriedade com que as autoridades estão tratando a ameaça representada por esses indivíduos. A ida de Mota para o sistema federal não é apenas uma punição mais rigorosa; é uma estratégia para desmantelar a capacidade técnica e tática do Comando Vermelho, especialmente no que tange à sua inovadora, e letal, unidade de drones.

A neutralização de figuras como Mota, que possuem conhecimento técnico especializado e capacidade de inovação, é crucial para minar a sofisticação do crime organizado e restaurar a segurança em comunidades cariocas que enfrentam um cenário de violência sem precedentes.

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