Mãe Desafia Versão Policial sobre Morte de Capixaba em Operação no Rio

Mãe Desafia Versão Policial sobre Morte de Capixaba em Operação no Rio

Imagem: Divulgação (essa imagem pode ter direitos autorais)

Megaoperação no Rio: Mãe de Capixaba Morto Contesta Versão Oficial e Clama por Justiça

A dor lancinante e a revolta indomável ecoaram nas palavras de Fabiana Martins, mãe de Fabian Alves Martins, de 22 anos. Natural de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, Fabian foi uma das vítimas fatais da megaoperação policial que abalou os complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro. Em um desabafo carregado de emoção, Fabiana contestou veementemente a narrativa oficial, insistindo que seu filho não tinha qualquer ligação com atividades criminosas e criticando a maneira como a ação policial foi conduzida.

Em meio à angústia de aguardar a liberação do corpo de Fabian no Instituto Médico-Legal (IML) do Rio, Fabiana expressou sua perplexidade e dor. “Meu filho era bobo, trabalhava, e a nossa família não precisa de dinheiro. Não somos ricos, mas também não precisávamos de nada”, afirmou, com a voz embargada pela emoção, em um depoimento que expunha a crueldade da perda e a indignação diante das acusações contra seu filho.

A Trajetória de Fabian: De Cachoeiro ao Rio

Fabian Alves Martins levava uma vida dedicada ao trabalho em sua cidade natal. Ele atuava com a instalação de forros de PVC em uma empresa de Cachoeiro, construindo um futuro modesto e honesto. Segundo o relato familiar, a viagem ao Rio de Janeiro não tinha qualquer propósito ilícito. Fabian havia se deslocado para a capital fluminense com o único intuito de visitar a namorada, residente na comunidade da Penha. Uma visita que, tragicamente, se transformaria em sua última jornada.

O corpo do jovem foi encontrado em uma área de mata conhecida como Vacaria, uma das regiões mais castigadas pela intensa operação policial. Esta ação, que mobilizou um vasto contingente de forças de segurança, culminou em um alto número de mortes, sendo reportadas 121 vítimas, incluindo quatro policiais, consolidando-se como um dos episódios mais controversos e letais da história recente das intervenções em favelas cariocas.

Confronto de Narrativas: Família vs. Autoridades

Enquanto as autoridades fluminenses sustentam a versão de que todos os mortos na operação possuíam ligação com o tráfico de drogas, Fabiana Martins recusa-se a aceitar essa explicação para a morte de seu filho. Sua descrença é profunda, alimentada não apenas pela convicção da inocência de Fabian, mas também pela dolorosa espera e pela forma como o processo de reconhecimento e liberação do corpo vinha sendo tratado. “Meu filho deve estar em decomposição e não me deixam vê-lo. Estou aqui desde ontem. Só queremos levar ele para casa”, desabafou, revelando a agonia de uma mãe que ansiava apenas por dar um sepultamento digno ao filho.

A mãe relatou ter recebido fotos e vídeos que mostravam o corpo de Fabian entre os outros mortos levados para a praça da Penha. As imagens, que ela descreveu com detalhes chocantes, mostravam seu filho com perfurações nas mãos e um tiro na nuca. “Meu filho está pelado aí. Eu trouxe essa camisa para ele. Ele é meu filho!”, disse Fabiana, em prantos, segurando a camisa que esperava vestir no corpo do jovem, em um gesto de desespero e amor incondicional.

Apesar de não conhecer os amigos de Fabian no Rio, Fabiana destacou a lealdade do filho como um possível fator em seu envolvimento com a situação. “O mal dele era ser muito fiel aos amigos. Eu não conheço esses amigos dele. Mas o Fabian era bobo, trabalhava. Ele fazia de tudo naquela empresa. Aqui, conheceu a namorada e uns amigos que a gente nem sabe quem são”, ponderou. Suas palavras pintam o retrato de um jovem talvez ingênuo, cujo círculo social em um ambiente complexo o teria exposto a um perigo inimaginável.

Os Desafios do Reconhecimento e a Versão dos Fatos

O processo de reconhecimento e liberação dos corpos após operações de grande porte como essa é, por si só, um calvário para as famílias. Funcionários do IML informaram que a identificação pode se estender por até sete dias, uma demora justificada pelo estado de decomposição dos corpos e pela complexidade forense envolvida em tantas vítimas. Essa burocracia, embora necessária, amplifica o sofrimento dos parentes, que se veem presos em um limbo de incertezas e dor.

Fabiana Martins também questionou a versão de que seu filho teria sido morto em confronto direto com a polícia. Suas observações sobre os ferimentos no corpo de Fabian a levaram a uma conclusão diferente e perturbadora. “Isso não é coisa de policial. Policial dá tiro na perna, não faz isso. Ele foi esfaqueado, deve ter sido pelos criminosos que estavam lá”, afirmou, levantando a terrível possibilidade de que Fabian pudesse ter sido vítima de outra violência, perpetrada por criminosos durante a operação, e não diretamente pela ação policial.

Vítimas Capixabas e a Repercussão da Operação

Com a morte de Fabian, ele se tornou o segundo capixaba confirmado entre as vítimas da operação fluminense. O primeiro identificado havia sido Alisson Lemos Rocha, de 27 anos, conhecido como Russo ou Gordinho do Valão. Alisson era investigado por homicídio e tráfico de drogas na Serra, na Grande Vitória, um perfil que, em contraste com o de Fabian, se alinhava à narrativa oficial das autoridades sobre as vítimas da operação.

A operação em si, fruto de cerca de 60 dias de planejamento minucioso, foi uma demonstração de força massiva. Centenas de agentes foram mobilizados, e uma estrutura de contenção conhecida como “muro do Bope” foi erguida. Essa tática visava bloquear estrategicamente as rotas de fuga entre as comunidades do Alemão e da Penha, cercando os supostos alvos e dificultando qualquer tentativa de evasão. A magnitude da ação, no entanto, veio acompanhada de um rastro de mortes e uma onda de luto e controvérsia, levantando questionamentos sobre a eficácia e as consequências humanitárias de intervenções tão violentas em áreas densamente povoadas.

A história de Fabian Alves Martins é um doloroso lembrete das complexidades e tragédias que frequentemente acompanham as operações policiais em favelas brasileiras. Enquanto as autoridades buscam impor a ordem e combater o crime, famílias como a de Fabiana Martins clamam por respostas, justiça e a verdade sobre a morte de seus entes queridos, muitas vezes perdidos em meio a um cenário de guerra urbana.