Empretec Indígena: Transformação e Autonomia Empreendedora nas Aldeias de Paranhos
Recentemente, a Aldeia Paraguassu, localizada no município de Paranhos, Mato Grosso do Sul, foi palco de um evento de grande relevância social e econômica: a formação da primeira turma do Empretec Indígena, inaugurando as atividades previstas para 2025. Esta iniciativa representa um marco significativo na maneira como as comunidades originárias vêm abordando o empreendedorismo sustentável e a geração de renda, promovendo uma verdadeira virada de chave para os participantes.
O projeto é fruto de uma colaboração estratégica entre a Secretaria de Estado da Cidadania (SEC), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Mato Grosso do Sul (Sebrae/MS) e a Prefeitura Municipal de Paranhos. Juntos, esses parceiros visam fortalecer a economia local por meio do empoderamento e da conquista da autonomia empreendedora, respeitando as especificidades culturais e sociais dos povos indígenas.
Ao longo de seis dias de uma imersão intensiva, os participantes foram desafiados a vivenciar uma série de atividades práticas e reflexivas. O programa foi cuidadosamente desenhado para fomentar o desenvolvimento de comportamentos e habilidades essenciais para o sucesso empreendedor. As atividades foram direcionadas a iniciativas sustentáveis e ao fortalecimento das cadeias produtivas que já existem nas aldeias, com especial atenção ao artesanato indígena e à produção comunitária, que representam importantes pilares culturais e econômicos.
A experiência proporcionou aos alunos ferramentas para identificar oportunidades de negócios, planejar suas ações, gerenciar recursos, negociar e superar obstáculos. Mais do que apenas técnicas de gestão, o Empretec Indígena busca instigar a autoconfiança e a persistência, qualidades cruciais para quem deseja trilhar o caminho do empreendedorismo.
Edivânia Veras, uma das alunas da primeira turma do Empretec Indígena em Paranhos, compartilha sua jornada de transformação. “No começo, confesso que não entendíamos muito bem o que era o programa. Eu me sentia perdida, não enxergava nada, não tinha um objetivo claro para a vida. Compartilhei essa sensação de ‘estar no escuro’ com os professores”, descreve Edivânia, emocionada. “Depois, o Empretec abriu os meus olhos, me fez colocar uma meta para chegar ao meu objetivo, e o mais importante, me ensinou a nunca desanimar diante de um desafio, por maiores que as dificuldades possam parecer.” Seu depoimento reflete a profunda mudança de perspectiva que o seminário é capaz de gerar, transformando a falta de direção em um caminho claro de autodeterminação.
O desenvolvimento e a implementação do Empretec Indígena têm sido monitorados de perto pela Subsecretaria de Políticas Públicas para Povos Originários, uma pasta essencial vinculada à SEC. O subsecretário Fernando Souza, que está à frente dessa pauta crucial, expressa com entusiasmo os resultados já visíveis nas comunidades. Em Paranhos, por exemplo, o índice de aproveitamento foi de 100%, com todos os indivíduos selecionados concluindo o programa e apresentando resultados promissores em seus projetos.
“O Empretec é uma iniciativa que vem para potencializar aquelas ideias tímidas que muitas vezes já existiam dentro do nosso território, além de propiciar novas descobertas. Com o seminário, novos empreendedores têm surgido, novas ideias têm sido lançadas, e a gente percebe o resultado disso na empolgação das pessoas, que antes talvez nem tivessem sonhos tão elaborados, mas agora voltaram a sonhar e a acreditar no seu potencial”, relata Fernando Souza. Ele acrescenta que, para além da mudança radical na vida dos indivíduos e de suas famílias, o programa terá um impacto significativo na comunidade e no município, promovendo dignidade, qualidade de vida, e uma maior sensação de autonomia e cidadania.
Empretec: Uma Metodologia Global Adaptada às Raízes Culturais
O Empretec Indígena é uma adaptação cuidadosa do seminário Empretec original, uma metodologia reconhecida internacionalmente, desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e promovida no Brasil com exclusividade pelo Sebrae. A versão voltada especificamente para os povos indígenas foi criada para atender de forma respeitosa e eficaz às particularidades culturais e sociais dessas comunidades. Isso inclui a valorização de seus modos de vida, a promoção de projetos econômicos que estejam alinhados com suas tradições e a maximização do potencial de suas cadeias produtivas específicas, como o artesanato, a agricultura familiar e o ecoturismo.
Entre os principais objetivos estratégicos do programa, destacam-se:
- Fortalecimento da economia local: Incentivar a criação e o desenvolvimento de negócios que gerem valor dentro da própria comunidade, estimulando o comércio interno e a produção de bens e serviços com identidade própria.
- Empoderamento das mulheres indígenas: Promover a participação ativa das mulheres em atividades empreendedoras, reconhecendo seu papel fundamental na gestão doméstica e comunitária, e oferecendo-lhes ferramentas para liderar e prosperar economicamente.
- Desenvolvimento de comportamentos empreendedores: Capacitar os participantes com habilidades como busca de oportunidades e iniciativa, persistência, comprometimento, exigência de qualidade e eficiência, planejamento e monitoramento sistemático, estabelecimento de metas, busca de informações e autoconfiança.
- Geração de renda e autonomia para famílias e comunidades: Oferecer caminhos concretos para que as famílias indígenas possam aumentar sua renda, diminuindo a dependência externa e fortalecendo sua capacidade de tomar decisões sobre o próprio futuro econômico e social.
A diretora-técnica do Sebrae/MS, Sandra Amarilha, destaca a importância da parceria entre a Secretaria de Estado da Cidadania e o Sebrae, que se consolida como uma ferramenta poderosa de inclusão produtiva e transformação social. Sandra Amarilha reforça que essa colaboração já rendeu frutos históricos, como a realização do primeiro curso Empretec indígena do Brasil no ano anterior. Para o futuro próximo, a agenda é ambiciosa: em novembro de 2025, novos Empretecs serão promovidos, especificamente voltados a comunidades indígenas, e, pela primeira vez na história de Mato Grosso do Sul, será realizada uma edição destinada a uma comunidade quilombola.
“O Empretec é um curso intensivo que, de forma única, desenvolve um conjunto de habilidades e comportamentos empreendedores. Ele prepara os participantes não apenas para identificar oportunidades de negócios, mas também para enfrentar os desafios inerentes ao mundo do empreendedorismo com resiliência e inovação”, explica a diretora-técnica do Sebrae/MS. “Essa iniciativa é um claro testemunho de como a parceria entre o poder público e a iniciativa privada pode ser um catalisador para a inclusão produtiva, gerando impactos positivos e duradouros para as mais diversas comunidades e perfis de empreendedores em nosso estado.”
Expansão e Compromisso com a Diversidade
Com o sucesso exemplar da turma em Paranhos, o programa Empretec Indígena reafirma seu compromisso com a inclusão produtiva e a valorização dos saberes tradicionais, demonstrando que o empreendedorismo pode e deve ser um caminho para a autonomia econômica e o fortalecimento cultural dos povos indígenas. A perspectiva é que os conhecimentos e as habilidades adquiridas se disseminem, gerando um efeito multiplicador e inspirando novas gerações.
Dando continuidade a essa jornada de capacitação, o Empretec Indígena já está em andamento na aldeia Marangatu, no município de Antônio João. Após esta etapa, o programa seguirá para outras importantes regiões de Mato Grosso do Sul, com um cronograma bem definido. Entre os dias 10 e 15 de novembro, a capacitação chegará à aldeia Jaguapiru, em Dourados. Em seguida, de 17 a 22 de novembro, será a vez de Nioaque sediar o seminário. Encerrando o ciclo de 2025, em dezembro, o Empretec Indígena aportará em Miranda, com atividades programadas entre os dias 1º e 6.
Além do Empretec Indígena, uma nova fronteira de inclusão será aberta com a primeira edição do Empretec Quilombola de Mato Grosso do Sul. Este evento histórico ocorrerá no Centro Comunitário da Comunidade Quilombola Araújo e Ribeiro, no município de Nioaque, entre os dias 24 e 29 de novembro. A expansão do programa para as comunidades quilombolas demonstra a amplitude do compromisso das instituições parceiras em promover o desenvolvimento socioeconômico e a autonomia de todos os povos tradicionais do estado, reconhecendo e celebrando suas culturas e potencialidades empreendedoras.
Essas iniciativas conjuntas são um testemunho vibrante do impacto transformador que a educação e o apoio ao empreendedorismo podem ter, tecendo um futuro mais próspero e equitativo para as comunidades originárias e quilombolas de Mato Grosso do Sul.
