Resistência e Celebração: Botafogo de Novo Hamburgo Une a Comunidade em Meio à Disputa Por Sua Sede
Em um domingo ensolarado que convidava à confraternização, a comunidade do bairro Jardim Mauá, em Novo Hamburgo, vivenciou momentos de pura alegria e união na sede do tradicional Botafogo Futebol Clube. O evento, cuidadosamente planejado para celebrar o Dia das Crianças, começou com a elegante exibição de carros antigos pela manhã, ganhando ainda mais força e efervescência no turno da tarde, após a dissipação da leve garoa matinal. A festa não foi apenas uma celebração infantil, mas um poderoso lembrete do valor inestimável que o clube representa para a vida social e cultural da região, em um período crucial de sua história.
Foto: Juliano Piasentin/GES-Especial
O sucesso do evento foi resultado de um esforço coletivo notável. Segundo Gerson Sudekum, conselheiro e ex-presidente do clube amador, a organização foi permeada por muito amor, carinho e um apoio essencial de parceiros. “Não desembolsamos quase nada de dinheiro”, ressaltou Sudekum, evidenciando o poder da colaboração comunitária. Com mais de 35 anos de história na Rua Visconde do Herval, a equipe se consolidou como um verdadeiro símbolo, transcendo as fronteiras do bairro. “O Botafogo é de Novo Hamburgo”, afirmou, sublinhando a identidade do clube com toda a cidade.
A presença calorosa da comunidade era palpável. Moradora da localidade, Miria Raimundo, de 48 anos, cresceu no Jardim Mauá e reforçou a relevância do alvinegro em sua vida e na de seus vizinhos. “A importância do clube é imensa. Me criei aqui, vivi muita coisa”, relatou Miria, com um brilho nos olhos que denunciava a nostalgia e o afeto. Ela rememorou os tempos de adolescência, frequentando as “baladinhas” que aconteciam no espaço quando tinha 15 ou 16 anos. “São muitas lembranças boas”, disse, mostrando como o clube se entrelaça com as memórias afetivas de gerações.
Motivada pelo sucesso do Dia das Crianças, Miria já projeta o próximo grande evento: uma festa de Natal. “Queremos arrecadar brinquedos para as crianças, fazer uma grande confraternização para toda a vizinhança”, explicou, demonstrando o espírito de solidariedade e a capacidade de mobilização que o Botafogo inspira.
Foto: Juliano Piasentin/GES-Especial
Mais que Futebol: A Expansão das Atividades Sociais do Botafogo
A visão de Gerson Sudekum e do grupo de conselheiros do Botafogo transcende o campo de futebol. Com a determinação de fortalecer o papel social do clube, novas atividades estão sendo implementadas e outras planejadas para breve. “O Botafogo não é só futebol”, enfatizou Sudekum, revelando a diversidade de projetos que o clube pretende oferecer à comunidade.
A partir do dia 28 de outubro, por exemplo, a sede do clube passará a abrigar aulas de capoeira, abrindo suas portas para uma expressão cultural e esportiva que promove disciplina, ritmo e inclusão social. Os interessados em participar podem se inscrever diretamente no clube, aproveitando essa nova oportunidade de desenvolvimento.
As novidades não param por aí. Ainda em 2025, o Botafogo promete anunciar uma parceria de futebol social para crianças, um projeto que visa oferecer acesso ao esporte, desenvolver talentos e, acima de tudo, fomentar valores como trabalho em equipe, respeito e superação entre os jovens da comunidade. “Em breve iremos anunciar”, reiterou Sudekum, gerando expectativa para esta importante iniciativa.
Na área social, a festa de Natal surge como um objetivo central para o grupo de conselheiros. Para garantir o sucesso do evento e a arrecadação de brinquedos, um jogo beneficente será organizado, unindo a paixão pelo futebol com a solidariedade, em uma corrente do bem que promete iluminar o fim de ano das crianças do Jardim Mauá.
Decisão Judicial Favorável e a Luta Pela Permanência
O engajamento social do Botafogo ocorre em um cenário complexo, marcado por uma disputa territorial com a Prefeitura de Novo Hamburgo. O Executivo municipal manifestou a intenção de utilizar a vasta área de 30.892,52 m² onde o clube está localizado para a construção de um Parque Urbano. Sudekum reforça o desejo do clube de buscar uma solução amigável e construtiva com a administração municipal. “Fazer do projeto da Prefeitura, também um projeto do clube”, expressou, indicando a vontade de colaborar e integrar o Botafogo no futuro parque, preservando sua identidade e função social.
Recentemente, o clube obteve uma vitória crucial na Justiça, que trouxe um alívio temporário e renovou as esperanças da comunidade. Em 9 de outubro, a desembargadora relatora Cristiane da Costa Nery, da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, determinou a suspensão da ordem de desocupação emitida anteriormente pela Prefeitura hamburguense. Essa decisão representa um importante fôlego para o Botafogo e seus apoiadores.
Fabiano Pilger, advogado do clube, esclareceu os próximos passos do processo judicial. “Após a negativa da Justiça em Novo Hamburgo, entramos com recurso em Porto Alegre. A partir disso garantimos a manutenção da sede até a decisão final do colegiado”, explicou Pilger. A suspensão da ordem inicial, que exigia a desocupação da sede até o dia 30 de novembro, concede ao clube o tempo necessário para apresentar seus argumentos e aguardar o julgamento do mandado de segurança. O grupo responsável pelo julgamento é composto por três desembargadores da capital gaúcha, e ainda não há previsão para que a decisão final seja proferida. A expectativa agora é pela análise aprofundada do caso, que definirá o futuro da tradicional sede do Botafogo.
O Legado do Botafogo e a Força da Comunidade
A história do Botafogo Futebol Clube é mais do que a de um time amador; é a história de um ponto de encontro, de um centro de memórias e de um motor de desenvolvimento comunitário. O clube, enraizado no Jardim Mauá por mais de três décadas, tem sido um pôntico para gerações, oferecendo lazer, cultura e um senso de pertencimento inestimável. A paixão e o compromisso de seus membros, como Gerson Sudekum, e o apoio inabalável de moradores como Miria Raimundo, são testemunhos da profunda conexão que o Botafogo estabeleceu com a vida de Novo Hamburgo.
A luta pela permanência de sua sede, embora desafiadora, serve para reafirmar a relevância do clube e fortalecer os laços comunitários. Cada evento, cada nova aula de capoeira, cada planejamento de festa de Natal, são atos de resistência e esperança, mostrando que o espírito do Botafogo permanece vivo e ativo. A comunidade de Jardim Mauá, unida em celebração e em propósito, continua a defender seu patrimônio, certa de que o Botafogo é um valor que transcende o futebol, sendo um verdadeiro pilar da identidade local.
A espera pela decisão final da Justiça é acompanhada de perto por todos que veem no Botafogo não apenas um clube, mas um pedaço vital da história e do presente de Novo Hamburgo. O desejo é que a negociação e o diálogo prevaleçam, permitindo que a Prefeitura e o clube encontrem um caminho que beneficie toda a cidade, preservando um legado de união e solidariedade que o Botafogo representa.