Extradição de Carla Zambelli ao Brasil recebe parecer favorável da Itália, segundo AGU

Extradição de Carla Zambelli ao Brasil recebe parecer favorável da Itália, segundo AGU

Carla Zambelli. Foto Lula Marques/ Agência Brasil

Justiça Italiana Aprova Extradição de Carla Zambelli: Entenda os Desdobramentos Legais

O cenário jurídico internacional que envolve a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ganhou um novo e decisivo capítulo. O Ministério Público da Itália emitiu um parecer favorável ao pedido de extradição da parlamentar, conforme anunciado pela Advocacia-Geral da União (AGU) nesta quarta-feira (22). Zambelli encontra-se atualmente em prisão cautelar no país europeu, uma medida determinada pela Corte de Apelação de Roma, que avaliou existir um grave e iminente risco de fuga por parte da deputada.

A atuação da AGU neste processo é fundamental, pois representa os interesses do Estado brasileiro, buscando garantir que as determinações da Justiça nacional sejam plenamente cumpridas. A extradição é um instrumento de cooperação jurídica internacional crucial para assegurar que indivíduos que respondem a crimes em seu país de origem não consigam se eximir de suas responsabilidades ao buscar refúgio em outra nação.

Carla Zambelli deixou o Brasil no início de junho, após ser alvo de uma condenação a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A acusação que culminou nessa pena pesada é de sua participação na invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em um plano que visava a emissão de um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, integrante do STF. Este episódio, que chocou o país, expôs uma grave tentativa de minar a credibilidade e a autoridade do Poder Judiciário.

O pedido de extradição foi formalmente encaminhado à Itália pelo governo brasileiro, e a Corte de Apelação aguardava o parecer da Procuradoria-Geral italiana para dar prosseguimento ao caso. Com o parecer favorável em mãos, uma nova audiência será marcada para avaliar a existência de todos os requisitos legais necessários para que Zambelli seja, de fato, enviada de volta ao Brasil. Importante ressaltar que a palavra final sobre o tema caberá ao governo italiano, por intermédio de seu Ministério da Justiça, que analisará a questão sob a ótica da soberania e dos acordos bilaterais.

O Intrincado Processo de Extradição e a Prisão Cautelar

A extradição é um procedimento complexo que envolve a cooperação entre diferentes sistemas jurídicos e a observância de tratados internacionais. No caso de Carla Zambelli, a decisão de mantê-la em prisão cautelar na Itália reflete a seriedade com que as autoridades italianas encaram o risco de que a deputada possa tentar novamente evadir-se da justiça. A Corte de Apelação, ao determinar o regime fechado, considerou que o seu estado de saúde era compatível com o encarceramento e que as circunstâncias indicavam um alto potencial de fuga, justificando a medida preventiva enquanto o processo de extradição tramita.

A equipe de defesa de Zambelli, por sua vez, tem mobilizado todos os recursos jurídicos disponíveis para contestar as decisões que a mantêm detida. No último dia 8 de novembro, a Corte de Cassação, que representa a última instância da Justiça italiana, rejeitou um recurso apresentado pela defesa da deputada que pleiteava a reversão de sua prisão em regime fechado. Com essa decisão, a parlamentar permanece detida na Itália enquanto o processo de extradição segue seu curso. Os advogados haviam tentado, em fins de agosto, reverter a determinação da Corte de Apelação, que já havia negado um pedido de prisão domiciliar, reforçando a percepção de risco de fuga e a adequação do seu quadro de saúde ao cárcere.

A condenação do STF em maio, que resultou na pena de dez anos de prisão e na perda do mandato, é um dos pilares do pedido de extradição. A acusação central envolve a invasão do sistema do CNJ, com o auxílio do hacker Walter Delgatti Neto, que também foi condenado pelo mesmo crime. O objetivo da invasão era, como já mencionado, a emissão de um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, um ato de desestabilização e grave ataque à institucionalidade. Zambelli, no entanto, mantém a posição de que o hacker teria agido sozinho, sem sua participação direta ou conhecimento pleno de suas intenções criminosas.

O Impacto da Invasão ao CNJ e a Vulnerabilidade do Sistema

A invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça, orquestrada com o envolvimento de Walter Delgatti Neto, foi um evento sem precedentes na história recente do judiciário brasileiro. O CNJ é o órgão que fiscaliza, planeja e coordena o sistema judicial no Brasil, garantindo a transparência e a eficiência. A emissão de documentos falsos a partir de seu sistema, como um mandado de prisão contra uma alta autoridade como o ministro Alexandre de Moraes, não é apenas um crime de falsidade ideológica ou invasão de dispositivo informático. Representa um ataque direto à credibilidade e à segurança das instituições democráticas, buscando semear a desinformação e a desconfiança na justiça.

A participação de uma deputada federal em tal esquema intensifica a gravidade do ato, levantando questões sobre a responsabilidade de representantes eleitos e a extensão da tentativa de subverter a ordem jurídica. Walter Delgatti Neto, por sua vez, já era conhecido por seu histórico de atividades de hacking, o que adiciona uma camada de premeditação e sofisticação à empreitada criminosa. A parceria entre uma figura política e um hacker experiente para atingir um ministro do STF é um cenário que demandou uma resposta firme e inequívoca do sistema judicial brasileiro.

Outra Condenação e os Desdobramentos da Perda de Mandato

Além da condenação relacionada ao CNJ, Carla Zambelli enfrenta uma segunda sentença condenatória. Ela foi condenada a 5 anos e 3 meses de prisão, em regime inicial semiaberto, além do pagamento de multa, por crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. Esta decisão também prevê a perda do mandato parlamentar, que se tornará efetiva após o trânsito em julgado da condenação – ou seja, quando não houver mais possibilidade de recurso e a decisão se tornar definitiva.

Essa segunda condenação remonta a um incidente ocorrido na véspera do segundo turno das eleições de 2022, que ganhou grande repercussão nacional. Na ocasião, a deputada federal sacou e apontou uma arma para um homem negro após uma discussão acalorada no bairro dos Jardins, uma área nobre de São Paulo. O episódio foi registrado em vídeo e gerou intensa controvérsia e críticas. Durante a confusão, um segurança da parlamentar chegou a efetuar um disparo de arma de fogo e foi posteriormente preso pela Polícia Civil. Os crimes de porte ilegal de arma e constrangimento ilegal refletem a conduta agressiva e perigosa da deputada em um momento de alta tensão política.

O Complexo Processo de Cassação na Câmara dos Deputados

A perda do mandato parlamentar de Zambelli, seja pela primeira ou segunda condenação, não é um processo automático. A Constituição Federal e o Regimento Interno da Câmara dos Deputados estabelecem um rito específico para a cassação de um deputado condenado criminalmente, que exige o aval do próprio Legislativo. Para que a perda do mandato seja efetivada, é necessária a maioria absoluta dos deputados, o que corresponde a 257 votos no plenário da Casa.

O trâmite da cassação inicia-se na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), um dos órgãos mais importantes da Câmara. Assim como no Conselho de Ética, um relator é designado para o caso, e o processo inclui a apresentação de defesa prévia por parte do acusado, a instrução com a coleta de provas e depoimentos de testemunhas, além da oitiva do próprio deputado. Somente após a votação e aprovação na CCJ, a matéria segue para o plenário da Câmara, onde ocorrerá a votação final. Não há um prazo máximo estabelecido para que esse processo seja concluído, o que pode estender a decisão por um período considerável, sujeito às dinâmicas políticas internas.

É importante destacar que a licença de 127 dias que Carla Zambelli havia tirado de seu mandato, antes de fugir para a Itália, terminou em 2 de outubro. Esse período de ausência, somado à sua atual situação de prisão e processo de extradição, intensifica a pressão sobre a Câmara dos Deputados para tomar uma posição definitiva em relação ao seu mandato.

O caso de Carla Zambelli, com suas múltiplas facetas jurídicas e políticas, continua a ser um dos mais observados no cenário brasileiro e internacional. A decisão da Justiça italiana, aliada aos processos em curso no Brasil, representa um marco significativo na busca pela responsabilização e pela aplicação da lei, independentemente da posição política do envolvido.