Artistas de Vale do Capão, Ilhéus, Vitória da Conquista e Feira de Santana ocupam Museu de Arte da Bahia: Confira a Programação

Mostra Teatro de Cabo a Rabo: Celebrando 30 Anos do TPI no Museu de Arte da Bahia

Uma vibrante imersão no universo das artes cênicas está prestes a transformar o Museu de Arte da Bahia (MAB) em um palco de celebração e reflexão. Entre os dias 22 e 26 de outubro, o programa “O Vila Ocupa o MAB” apresenta a aguardada Mostra Teatro de Cabo a Rabo, um evento dedicado a homenagear os 30 anos de fundação do Teatro Popular de Ilhéus (TPI). Essa iniciativa, concebida pelo Teatro Vila Velha, um dos pilares da cultura baiana, promete uma programação intensa e diversificada, com entrada gratuita para grande parte das atividades, reafirmando o compromisso com a democratização do acesso à cultura.

A Mostra é um tributo à duradoura e influente trajetória do Teatro Popular de Ilhéus, uma companhia que, ao longo de três décadas, tem se dedicado à produção teatral com um olhar atento às realidades sociais e culturais do seu entorno. A homenagem se estende também ao legado de Echio Reis, figura emblemática do teatro baiano, que não apenas fundou o TPI em 1994, mas também foi um dos visionários por trás da criação do Teatro Vila Velha, em 1964. Essa conexão entre as duas instituições sublinha a importância de preservar e promover a memória e a continuidade da produção artística no estado.

Destaques da Abertura: Borépeteĩ.Uno e Lançamentos Editoriais

A programação terá início em grande estilo no dia 22 de outubro, às 19h, com a encenação do espetáculo “Borépeteĩ.Uno”, uma produção do próprio Teatro Popular de Ilhéus. O título, que na língua tupi significa “o que contém tudo e está contido em tudo”, já antecipa a profundidade e a abrangência da montagem. A peça propõe uma instigante retomada do sentido de humanidade, convidando o público a exercitar a capacidade de perceber para além do óbvio, de enxergar o invisível e de reconectar-se com a essência da existência. Em um mundo cada vez mais fragmentado e acelerado, a proposta de “Borépeteĩ.Uno” ressoa como um chamado urgente à introspecção e à compreensão mútua.

Na mesma noite de abertura, o público terá o privilégio de participar do pré-lançamento de duas importantes coletâneas da editora TPI. A primeira, “Arquivos da cena – 30 anos de dramaturgia”, reúne textos teatrais de Équio Reis e Romualdo Lisboa, oferecendo um panorama da rica produção dramatúrgica que marcou a história da companhia. A segunda, “Terreiro do brincar – teatro para infâncias”, de autoria de Romualdo Lisboa, celebra o teatro dedicado às crianças, demonstrando a versatilidade e o alcance do trabalho do TPI em diferentes públicos e linguagens. Esses lançamentos não apenas celebram o passado, mas também solidificam a contribuição do TPI para o patrimônio cultural brasileiro, tornando suas obras acessíveis a novas gerações de leitores e artistas.

Imersão nos Processos Criativos: Oficina Desmontando Borépeteī.Uno

Para aqueles que desejam ir além da fruição e mergulhar nos bastidores da criação teatral, a Mostra oferece uma oportunidade única. No dia 23 de outubro, das 9h às 13h, será realizada a oficina “Desmontando Borépeteī.Uno”. Esta atividade prática e interativa permitirá aos participantes conhecer em profundidade os processos criativos do TPI, explorando as técnicas e estéticas que moldam suas produções. É uma chance imperdível para estudantes de teatro, artistas e entusiastas aprenderem com uma das companhias mais longevas e respeitadas do cenário baiano. As inscrições para a oficina são gratuitas, reforçando o caráter educativo e acessível do evento.

Além das apresentações e da oficina, a Mostra Teatro de Cabo a Rabo integra os renomados bate-papos do Fala Vila. Este projeto, criado pelo Teatro Vila Velha em 1994, tem como missão promover discussões aprofundadas sobre temas politicamente relevantes, abrangendo desde questões sociais e culturais amplas até os desafios específicos enfrentados pelo cenário artístico. O Fala Vila se estabeleceu como um espaço vital para o diálogo crítico e a troca de ideias, contribuindo para a formação de um público mais consciente e engajado.

Programação Detalhada: Uma Viagem pelo Teatro Baiano

A Mostra é uma verdadeira vitrine da diversidade e da riqueza do teatro baiano, trazendo grupos de diferentes regiões do estado e explorando uma multiplicidade de linguagens e temáticas.

“Borépeteĩ.Uno” – Teatro Popular de Ilhéus

* Data: 22 de outubro
* Horário: 19h
* Local: Museu de Arte da Bahia

Com texto de Romualdo Lisboa e uma cuidadosa tradução para o tupi por Consuelo Costa e Katu Tupinambá, “Borépeteĩ.Uno” é mais do que um espetáculo; é um convite à reflexão profunda sobre a existência humana. Em um período recente marcado por distopias, autoritarismos e uma preocupante desvalorização da inteligência, o TPI apresenta um experimento cênico que não só resiste, mas também celebra a potência inata dos povos originários e sua ancestral sabedoria. A montagem se destaca por sua capacidade de resgatar o sentido de humanidade, incentivando a percepção de realidades que transcendem o visível.

O elenco conta com a entrega de talentosos artistas como Tânia Barbosa, Elane Nascimento, Aldenor Garcia, Pablo Lisboa e Guilherme Pessoa, além da participação de Ely Izidro como técnico atuador. A produção também incorpora valiosas contribuições em vídeos e áudios de figuras como Katu Tupinambá, Cacique Ramon, Nádia Akawã, Pytuna, Îagwara e Casé Angatu, enriquecendo a narrativa com múltiplas vozes e perspectivas. A direção musical e as composições são de Pablo Lisboa, a edição e montagem de vídeos de Carlos Ortlad, a direção de movimento de Luis Alonso-Aude, a preparação vocal de Antônio Melo, e os figurinos, adereços, cenário e dispositivos cênicos são assinados por Shicó do Mamulengo. A direção é uma colaboração de Romualdo Lisboa e Luís Alonso-Aude. O projeto é fruto de uma parceria significativa entre o Teatro Popular de Ilhéus e o Observatório Astronômico e Núcleo de Artes da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), demonstrando a interdisciplinaridade e o alcance cultural da iniciativa.

“Néu Amistrongui e o Jegue Apolo” – Grupo Finos Trapos (Vitória da Conquista)

* Data: 24 de outubro
* Horário: 15h
* Local: Museu de Arte da Bahia
* Ingressos: Disponíveis em plataformas online ou na bilheteria do museu.

Este espetáculo de bonecos marca a estreia do Grupo de Teatro Finos Trapos neste formato, trazendo a magia do universo infantil e a riqueza da cultura nordestina. A peça narra a inspiradora jornada de Néu, um jovem nordestino que, impulsionado pela literatura, sonha em viajar até a Lua. Determinado e acompanhado de seu fiel jegue, Apolo, ele embarca em uma aventura que celebra o poder dos sonhos e da imaginação.

Inspirado nas obras do renomado artista plástico baiano Mário Cravo Jr. e do multiartista Silvio Jessé, “Néu Amistrongui e o Jegue Apolo” utiliza elementos visuais do imaginário nordestino para criar uma atmosfera única. A montagem transcende a mera encenação, transmitindo um profundo sentimento de pertencimento e uma valorização genuína da cultura de Vitória da Conquista e de toda a Bahia. É um espetáculo que encanta crianças e adultos, reforçando a importância da arte na construção de identidades e na promoção da diversidade cultural.

“O Salto” – Oca das Artes (Vale do Capão/Chapada Diamantina)

* Data: 25 de outubro
* Horários: 17h (sessão com tradução em Libras) e 19h30
* Local: Museu de Arte da Bahia
* Ingressos: Disponíveis em plataformas online ou na bilheteria do museu.

“O Salto” é um solo autobiográfico que se desenrola como uma travessia poética entre memórias, corpo e território. Livremente inspirado na infância de Ninha Almeida no Vale do Capão, na deslumbrante Chapada Diamantina, o espetáculo evoca o universo rural e a simplicidade de uma vida conectada à natureza. As lembranças da artista se desdobram em cena como pura poesia física, revelando a força de suas raízes.

Com o equilíbrio em arame como técnica circense central, a obra transita de forma fluida entre o teatro, a dança e a música, criando composições cênicas que harmonizam delicadeza e potência. Ninha Almeida desafia o risco e ressignifica o espaço, transformando cada movimento em uma declaração. O espetáculo aborda temas contemporâneos e cruciais, como o empoderamento feminino, a consciência ambiental e a representatividade do corpo negro em constante travessia, convidando o público a uma experiência sensorial e reflexiva sobre a vida e suas múltiplas dimensões.

“AKOKO LATI WA NI – Tempo de Ser” – Cia. ÚNICA de Teatro (Feira de Santana)

* Data: 26 de outubro
* Horários: 17h e 19h30
* Local: Auditório do Museu de Arte da Bahia
* Ingressos: Disponíveis em plataformas online ou na bilheteria do museu.

Encerrando a Mostra com uma obra de profunda relevância social e espiritual, “AKOKO LATI WA NI – Tempo de Ser”, da Cia. ÚNICA de Teatro de Feira de Santana, mergulha em uma narrativa afromítica. A peça acompanha a jornada de Dofona, Dofonitinho e Famo, três yawôs e estudantes de teatro que, às vésperas de montar sua peça de formatura, buscam respostas sobre o próprio tempo de vida e existência. Eles recorrem ao terreiro de Candomblé, pedindo à sua yalorixá que pergunte a Iroko, o orixá do tempo, sobre como é possível ter “tempo para ser”.

Em um contexto onde jovens negros são alvo de um genocídio estrutural, a pergunta central da peça – “Como envelhecer? Como escapar das balas do racismo e viver uma vida plena, para além da lógica do ter?” – ressoa com urgência e emoção. Nessa corrida pela vida, os personagens embarcam em uma profunda imersão em suas identidades negras, guiados pela sabedoria ancestral da yalorixá. Eles confrontam a professora Clássica, uma figura que simboliza um teatro colonizador, e finalmente encontram-se com Iroko.

Através de uma linguagem multifacetada que integra música, dança, teatro e poesia, a dramaturga Onisajé constrói uma narrativa afromítica que ela mesma denomina de Macumdrama, inserida na poderosa poética do Teatro Preto de Candomblé. O espetáculo é um chamado à resistência, à valorização da cultura afro-brasileira e à reflexão sobre a necessidade de tempo para se existir plenamente em um mundo que muitas vezes nega essa possibilidade.

A Mostra Teatro de Cabo a Rabo é, portanto, muito mais do que uma série de espetáculos; é um manifesto cultural, uma celebração da vida e da arte, e uma plataforma para vozes diversas e histórias essenciais. O Teatro Vila Velha, em parceria com o Museu de Arte da Bahia, oferece ao público baiano uma oportunidade imperdível de mergulhar em um universo teatral rico, crítico e profundamente humano, honrando a memória e o futuro da cena artística do estado.

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