Adoção de cautela por Tarcísio e Ratinho em meio à crise no Rio amplia disputa pela direita em 2026

Adoção de cautela por Tarcísio e Ratinho em meio à crise no Rio amplia disputa pela direita em 2026

Foto: Roberto Dziura Jr/AEN

Crise no Rio: Tarcísio e Ratinho Jr. Avaliam Impacto Político com Cautela

A recente e grave crise de segurança pública que assolou o Rio de Janeiro colocou em xeque a postura de importantes figuras políticas do país, especialmente aquelas que despontam como potenciais candidatos à presidência em 2026. Em meio a uma operação policial de alta letalidade no Complexo da Penha, dois dos nomes mais cotados para uma eventual disputa contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Paraná, Ratinho Jr. (PSD) — optaram por uma notável cautela.

Essa abordagem estratégica contrastou fortemente com a postura de outros governadores do mesmo campo político de direita, como Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União), de Goiás. Estes últimos, sem hesitação, endossaram prontamente a ação do colega Cláudio Castro (PL), governador fluminense, posicionando-se de forma mais incisiva na discussão sobre a segurança pública e as críticas ao governo federal.

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Os Cautelosos: Tarcísio de Freitas e Ratinho Jr.

A Ponderação de Tarcísio de Freitas

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, embora tenha prestado solidariedade e apoio a Cláudio Castro pela operação que resultou em 121 mortes no Complexo da Penha, demorou a fazê-lo publicamente, divulgando sua manifestação apenas na noite de uma quarta-feira (29). Sua participação em reuniões sobre o tema também seguiu um padrão de cautela.

Inicialmente convidado para um segundo encontro presencial no Rio, Tarcísio avisou, na tarde da terça-feira, que não compareceria pessoalmente, optando por uma participação virtual. Na mesma tarde, ele agendou uma cerimônia sobre saúde no Palácio dos Bandeirantes, com a presença de prefeitos, evidenciando uma agenda paralela que o distanciaria do epicentro da crise fluminense.

Fontes próximas ao governador revelam que ele recebeu uma série de conselhos divergentes. De um lado, assessores defendiam um posicionamento firme ao lado de Castro, argumentando que a segurança pública é uma pauta fundamental para seu eleitorado e que a isenção não seria bem-vista. De outro, a recomendação era de prudência, já que o caso é complexo e a percepção pública poderia mudar rapidamente, especialmente se surgissem novas e mais graves informações sobre a operação.

Apesar da cautela inicial, Tarcísio publicou uma extensa postagem em suas redes sociais, com oito parágrafos, abordando a questão. No texto, ele citou o teórico militar Carl von Clausewitz ao discutir a conquista de territórios, buscando dar profundidade à sua análise. A mensagem expressou solidariedade a Castro, estendendo-a “às famílias dos policiais que tombaram heroicamente em combate e à população que sofre as consequências dessa violência desmedida”. Aliados do governador reiteraram que a opção por uma nota detalhada, ao final do dia, deveu-se à complexidade do tema e ao desejo de apresentar um texto consistente, que ponderasse todos os pontos.

Essa postura mais comedida de Tarcísio pode ser compreendida à luz de experiências passadas. O governador já enfrentou críticas severas pela atuação da Polícia Militar paulista, notadamente após a Operação Escudo na Baixada Santista, que resultou em 28 mortes, e por sua declaração de que não estava “nem aí” para queixas de abusos apresentadas por entidades à ONU (Organização das Nações Unidas). Tais episódios o levaram a uma maior ponderação em situações delicadas envolvendo ações policiais de grande impacto.

A Estratégia de Ratinho Jr.

Por sua vez, o governador do Paraná, Ratinho Jr., que é tratado como principal nome por setores do empresariado e do mundo político caso Tarcísio não concorra à presidência, também adotou uma linha de discrição. Embora tenha conversado reservadamente com Cláudio Castro para manifestar apoio, optou por não se manifestar publicamente nas redes sociais.

Sua participação nos eventos relacionados à crise do Rio foi marcada por idas e vindas. Ele foi convidado para uma reunião virtual na manhã de terça-feira, junto com outros governadores de oposição, mas não participou, alegando estar em um evento externo. Inicialmente, também justificou a ausência em um encontro presencial no Rio por falta de espaço na agenda. Contudo, sua equipe havia se antecipado, com o secretário Hudson Leôncio Teixeira se reunindo com a equipe fluminense para oferecer ajuda ainda na segunda-feira. Na noite de quarta-feira, Ratinho Jr. mudou de ideia e decidiu ir ao encontro na quinta, mas, por fim, não compareceu devido a um atraso em um leilão na B3.

A equipe de Ratinho Jr. tem trabalhado para construir uma imagem mais moderada para o governador, avaliando que certas “derrapadas” de Tarcísio, como os ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), reforçam a necessidade de diferenciação e uma postura mais equilibrada.

Os Diretos: Zema e Caiado

Em contraste com a cautela de Tarcísio e Ratinho Jr., os governadores Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado, de Goiás, adotaram posicionamentos muito mais diretos e assertivos. Ambos buscaram se cacifar como candidatos ao Palácio do Planalto com uma retórica mais alinhada à direita.

Zema declarou que o Rio de Janeiro não poderia “ficar abandonado” e defendeu prisões em massa, em uma clara alusão ao modelo de El Salvador. O governador mineiro aproveitou a oportunidade para criticar o presidente Lula, que poucos dias antes havia afirmado que traficantes eram “vítimas de usuários de drogas” – declaração que o petista posteriormente retratou. Para Zema, a situação no Rio era uma chance de firmar sua posição em uma pauta de forte apelo popular.

Caiado, por sua vez, classificou a operação de Castro como um “resgate do Estado democrático de Direito” e também dirigiu críticas ao governo federal, que, segundo ele, seria “complacente com o crime”. A postura de ambos os governadores demonstra uma clara intenção de capitalizar politicamente a crise, usando-a como plataforma para reforçar suas credenciais de direita e se contrapor à gestão petista.

A Reunião Estratégica e Suas Implicações

No final da tarde da quinta-feira, os governadores de direita se reuniram no Palácio de Laranjeiras, no Rio, em um encontro articulado por Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, para discutir a segurança pública. A lista de convidados incluiu gestores alinhados à direita, como os de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná.

A escolha seletiva dos participantes gerou críticas. Um governador de centro, ouvido por esta reportagem, avaliou que esse “recorte” contaminaria o encontro, reforçando seu caráter político e não puramente técnico. Essa leitura foi compartilhada por um auxiliar de um dos governadores de direita presentes, indicando uma percepção interna de que o evento tinha uma forte conotação eleitoral.

Tanto aliados do presidente Lula quanto do governador Cláudio Castro criticaram a politização da operação no Rio. Nos primeiros dias da crise, os dois lados trocaram acusações e críticas. Inicialmente, o governador Castro queixou-se da falta de ajuda da União, mas não formalizou um pedido. Posteriormente, recuou e, em reunião com integrantes da gestão Lula, anunciou na quarta-feira (29) a criação de um gabinete conjunto com representantes dos dois governos, buscando uma despolitização para ações mais concretas.

O Jogo Político e as Eleições de 2026

A crise no Rio de Janeiro e a resposta dos governadores de direita revelam as complexas dinâmicas que já moldam o cenário político com vistas às eleições de 2026. A pauta da segurança pública emerge como um terreno fértil para a diferenciação e o fortalecimento de candidaturas presidenciais.

A estratégia de alguns governadores, como Zema e Caiado, foi a de se contrapor diretamente ao governo Lula, utilizando a crise para destacar uma suposta fragilidade na gestão federal da segurança. Essa abordagem também serve para se desvencilhar de outras agendas políticas que poderiam ser menos populares, como a discussão sobre uma eventual anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Já a cautela de Tarcísio e Ratinho Jr. pode ser interpretada como uma tentativa de evitar associações precipitadas com ações que podem se tornar polêmicas, ao mesmo tempo em que buscam consolidar uma imagem mais ponderada, distanciando-se de polarizações extremas. Ambos estão na mira como potenciais candidatos a 2026, com Tarcísio afirmando que buscará a reeleição em São Paulo, enquanto auxiliares aguardam uma indicação explícita de Bolsonaro para uma disputa presidencial. Ratinho Jr., por sua vez, já se apresenta como pré-candidato declarado ao Planalto, buscando um perfil que o torne atrativo para diferentes espectros do eleitorado.

Acompanhamentos de redes sociais, que circularam entre auxiliares dos governos estaduais, indicavam um maior apoio da população ao tema da segurança pública, reforçando a percepção de que essa é uma pauta crucial. Assim, cada movimento, cada declaração e cada ausência foram cuidadosamente calculados, revelando que a crise de segurança no Rio de Janeiro se tornou um palco antecipado para a corrida presidencial de 2026.

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