Operação Policial Mais Letal da História no Rio de Janeiro: 64 Mortes e Detalhes da Ação

Operação Policial Mais Letal da História no Rio de Janeiro: 64 Mortes e Detalhes da Ação

Foto: Reprodução/X.

Rio de Janeiro em Alerta: Megaoperação Policial nos Complexos do Alemão e Penha Deixa Dezenas de Mortos

Uma operação policial de grandes proporções deflagrada nesta terça-feira, 28 de [mês, dia conforme o ano original da notícia, assumindo que 28/10/2025 para a imagem], resultou na morte de ao menos 64 pessoas no Rio de Janeiro, marcando-a como a intervenção mais letal já registrada na história do estado. Conforme informações divulgadas pelo governo do estado, sob a gestão de Cláudio Castro (PL), as forças de segurança se concentraram nos vastos **complexos do Alemão e da Penha**. O objetivo primordial da ação era desmantelar a estratégia de expansão territorial empreendida pela facção criminosa **Comando Vermelho**, que há anos desafia a autoridade estatal e impõe sua hegemonia em diversas áreas da capital fluminense.

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Até esta data, o triste recorde de operação policial mais letal no Rio de Janeiro pertencia ao **massacre do Jacarezinho**, ocorrido em maio de 2021, que resultou em 28 mortos, incluindo um policial. O preocupante é que, das quatro ações mais violentas da história fluminense, três foram executadas durante a gestão do atual governador Cláudio Castro, levantando questões sobre a abordagem da segurança pública no estado.

Do total de vidas perdidas nesta terça-feira, a polícia classificou ao menos 60 como sendo de indivíduos suspeitos de envolvimento com atividades criminosas. Contudo, a tragédia não se limitou ao confronto direto com a criminalidade: dois policiais civis e dois policiais militares também tombaram em serviço, elevando o custo humano da operação. O balanço final de mortos ainda estava em processo de apuração no decorrer do dia. É importante ressaltar que os complexos do Alemão e da Penha, alvos desta intervenção massiva, são um emaranhado urbano que congrega um total de 26 comunidades, abrigando centenas de milhares de moradores.

O Alcance da Operação e suas Consequências

A megaoperação tinha como meta inicial o cumprimento de 69 mandados de prisão em 180 diferentes endereços, evidenciando a amplitude da investigação prévia. Até o final da tarde, os esforços policiais resultaram na prisão de 81 pessoas e na apreensão de um arsenal significativo, com 72 fuzis tirados de circulação. Além das dezenas de mortos, a ação deixou seis pessoas baleadas, sendo três delas não consideradas suspeitas pelas autoridades. Entre os civis feridos estava uma mulher que foi atingida enquanto estava dentro de uma academia, um trágico exemplo do impacto colateral desses conflitos.

Em uma demonstração de força e desafio à autoridade do Estado, o **Comando Vermelho** reagiu à operação ordenando o fechamento de ruas e promovendo o roubo de mais de 50 ônibus. Essas ações táticas visavam criar um caos urbano, bloqueando diversas vias importantes e paralisando parte da cidade, como uma tentativa de desviar o foco das forças de segurança e dificultar seu avanço.

A Posição do Governo Estadual e as Críticas

O governador Cláudio Castro, em declarações à imprensa, enfatizou a gravidade da situação. “Essa operação de hoje tem muito pouco a ver com segurança pública. É um estado de defesa. Não é mais só responsabilidade do estado, excede as nossas competências. Já era pra ter um trabalho de integração com as forças federais. O Rio está sozinho”, afirmou o governador, ressaltando o sentimento de isolamento do estado no combate ao crime organizado. Ele descreveu a operação como a maior já realizada pelas forças de segurança fluminenses.

Castro detalhou que a ação foi resultado de um minucioso trabalho de inteligência: “Uma operação que teve início no cumprimento de mandados judiciais, mais de um ano de investigação, mais de 60 dias de planejamento. Uma operação do estado contra narcoterroristas – quem faz o que eles fazem são narcoterroristas. Já temos relatos de tentarem fechar a avenida Brasil e outras vias para desviar a atenção. Há grande possibilidade de lideranças encurraladas, detidas ou neutralizados”, declarou. O governo do estado também revelou que criminosos fizeram uso de drones para lançar bombas contra as equipes policiais e até contra a população no **Complexo da Penha**, uma tática que visava atrasar o avanço das forças de segurança e semear o terror.

Em entrevista coletiva, o governador teceu duras críticas ao governo federal, acusando-o de negligência e falta de preocupação com a segurança pública no Rio de Janeiro. Ele direcionou sua insatisfação especialmente à **ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635**, conhecida como **ADPF das Favelas**. Esta ação, movida pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro) no **Supremo Tribunal Federal (STF)**, questiona a política de segurança pública do estado, notoriamente marcada pela alta letalidade policial em comunidades. Para Castro, a ADPF 635 é “maldita” e suas restrições às operações nas favelas foram responsáveis diretas pela expansão do crime organizado, limitando a capacidade de resposta das forças estaduais.

Investigação, Lideranças e Táticas Criminosas

A operação policial, segundo informações do governo, conseguiu prender um líder do **Comando Vermelho** apontado como responsável pela guerra travada no Chapadão. Os criminosos, por sua vez, empregaram diversas barricadas nas vias de acesso às comunidades para tentar impedir a entrada das forças policiais, uma tática comum para proteger seus territórios.

“A operação visa combater a expansão territorial do Comando Vermelho e capturar lideranças criminosas do Rio de Janeiro e de outros estados”, reiterou uma nota oficial divulgada pelo governo. De acordo com a **Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE)**, a investigação que culminou nesta ação durou cerca de um ano, focando na estratégia de expansão da facção.

O **Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco)** do Ministério Público do Rio de Janeiro destacou a importância estratégica do complexo de favelas. Por estar localizado próximo a vias expressas, o complexo serve como um ponto crucial para o escoamento de drogas e armamentos, tornando-se uma das principais bases para o projeto expansionista do **Comando Vermelho**, especialmente em comunidades da região de Jacarepaguá.

No âmbito legal, a Promotoria denunciou 67 indivíduos pelo crime de associação para o tráfico, e três homens foram adicionalmente denunciados por tortura. Entre os principais alvos estava **Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca**, apontado como a principal liderança do Comando Vermelho no **Complexo da Penha** e em outras comunidades da zona oeste, como Gardênia Azul, César Maia e Juramento. Um dos presos na ação desta terça-feira foi identificado como o operador financeiro de Doca, um golpe significativo na estrutura da facção. A denúncia também apontava como líderes na associação criminosa **Pedro Paulo Guedes (Pedro Bala), Carlos Costa Neves (Gadernal) e Washington Cesar Braga da Silva (Grandão)**.

De acordo com a Promotoria, esses líderes são responsáveis por dar ordens relativas ao tráfico de drogas, determinar as escalas dos criminosos em pontos de venda e monitoramento, e até mesmo ordenar assassinatos de quem contraria seus interesses. Além deles, foram denunciados 15 homens que gerenciavam o tráfico, cuidando da contabilidade e do abastecimento, entre outras funções. Os demais denunciados, segundo a ação penal, atuavam como “soldados”, incumbidos do monitoramento e da segurança armada. A denúncia foi acolhida e os mandados expedidos pelo Juízo da 42ª Vara Criminal da Capital.

A Dificuldade de Enfrentar o Crime Organizado

**Victor Santos**, Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, reconheceu na manhã da terça-feira a impossibilidade de o estado combater o crime organizado de forma isolada. “Estamos falando de 9 milhões de metros quadrados de desordem urbana [nos complexos do Alemão e da Penha], com becos intransitáveis, casas irregulares e criminosos que dominam o território. É impossível enfrentar isso apenas com o efetivo do estado”, afirmou o secretário, sublinhando a complexidade e a dimensão do desafio.

A operação mobilizou um contingente robusto de forças de segurança. Pela **Polícia Civil**, participaram agentes da **Core (Coordenadoria de Recursos Especiais)**, diversas delegacias especializadas e distritais, além do Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e da Subsecretaria de Inteligência. A **Polícia Militar** contribuiu com o **COE (Comando de Operações Especiais)** e unidades de policiamento da capital e da região metropolitana. O aparato logístico incluía drones, dois helicópteros, 32 veículos blindados terrestres, 12 veículos de demolição e, para o suporte às vítimas, ambulâncias.

O Cotidiano Interrompido e o Luto

Desde as primeiras horas da manhã, moradores dos complexos do Alemão e da Penha relataram intensos tiroteios e uma enorme dificuldade para sair de suas casas, com o som dos disparos de fuzil ecoando pelas comunidades.

Na **Vila Cruzeiro**, parte do **Complexo da Penha**, a presença policial era ostensiva, com blindados ocupando todos os acessos à favela. Residentes eram vistos caminhando mesmo sob o som dos tiros, enfrentando um cenário de guerra urbana. Motos, no entanto, eram proibidas de circular, e agentes gritavam ordens para que retornassem. Baús e mochilas eram revistados exaustivamente. Mototaxistas, impedidos de trabalhar, vociferavam xingamentos contra os agentes ao se distanciarem das barreiras policiais.

Em um momento de forte contraste com a violência, um morador, vestindo uma camisa com uma inscrição sobre a paz, caminhava lentamente ao lado dos agentes, enquanto disparos de fuzil podiam ser ouvidos a cerca de 300 metros. Ele expressou que passava “rezando” e que “é só rezar que a paz chega”. O homem, que não quis se identificar, revelou ter 63 anos e morar na Vila Cruzeiro desde que nasceu, e que reza constantemente.

Entre os próprios agentes, a notícia da morte de dois colegas de corporação trouxe um profundo pesar. “O Máscara (apelido de um dos agentes) estava no meio do mato. Vai ganhar bravura, merecido”, lamentou um policial, evidenciando a camaradagem e o luto compartilhado. Por volta do meio-dia, um grupo de 26 presos, incluindo alguns menores, foi levado sob custódia da Polícia Militar em um ônibus para a **Cidade da Polícia**.

Ainda nas primeiras horas após o confronto, a dor e a angústia se faziam presentes na porta do Núcleo de Acolhimento à Família do Hospital Estadual Getúlio Vargas. Duas famílias ali choravam. Uma delas, abraçada por policiais civis, agradecia os pêsames recebidos, sendo parentes de um dos agentes mortos em serviço. A outra família, por sua vez, tentava obter autorização para visitar um dos baleados que estava sob custódia policial. Ambas as famílias optaram por não conceder entrevistas, imersas em seu sofrimento.

A operação teve um impacto direto nos serviços essenciais da região. Pelo menos cinco unidades de saúde que atendem os complexos da Penha e do Alemão suspenderam o início do funcionamento, avaliando a possibilidade de reabertura nas horas seguintes. Uma clínica da família, embora mantendo o atendimento interno à população, teve suas atividades externas, como as visitas domiciliares realizadas no território, suspensas, evidenciando a completa ruptura do cotidiano e a vulnerabilidade da população local em meio ao conflito.