Mulher Fala Após Marido Receber Órgão com Câncer: Não Cabe Silêncio

Em março de 2023, Geraldo Vaz Junior, aos 58 anos, passou por um transplante de fígado para mudar de vida, já que sofria de hepatite C. Para sua esposa, Márcia Helena Vaz, esta seria uma nova chance para o marido. No entanto, meses seguintes trouxeram a notícia chocante: o fígado transplantado tinha câncer.

Junior foi diagnosticado com adenocarcinoma, um tumor maligno, e uma metástase do mesmo tipo de câncer no pulmão. Desde então, o paciente passou por um retransplante, faz quimioterapia e, com o apoio de sua esposa, busca respostas.

Jogo de Responsabilidades

Com o objetivo de obter respostas e chamar atenção para o caso, Márcia decidiu divulgar a situação. Desde setembro, ela distribui informações pelas ruas de São Paulo e pelas redes sociais, cobrando esclarecimento das autoridades.

De acordo com o Decreto nº 9.175/2017, que regulamenta a Lei dos Transplantes nº 9.434/1997, todas as doações de órgãos no Brasil devem ser gratuitas e anônimas. Por isso, Geraldo Junior e sua família não tiveram acesso ao perfil ou informação do doador. Tudo que Márcia sabe é que a doadora foi uma mulher que morreu de Acidente Vascular Cerebral (AVC).

A Busca por Soluções e Justiça

A situação de Junior, que se encontra em metástase sem previsão de cura, requer a continuação de sessões de quimioterapia. A esposa do paciente, Márcia, se mantém empenhada na busca por justiça. Ela defende que é necessário identificar onde o erro ocorreu e quem errou. A partir daí, Márcia acredita que seria possível tomar ações urgentes para mudar o processo.

Postura das Autoridades da Saúde

O Sistema Nacional de Transplantes (SNT), ligado ao Ministério da Saúde, regulamenta e fiscaliza a doação e transplante de órgãos no país. Segundo nota do Ministério da Saúde, todos os procedimentos e parâmetros internacionais para a realização do procedimento foram cumpridos. O ministério afirmou que está monitorando o caso junto à Central Estadual de Transplantes.

Culpa de Quem?

Por outro lado, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP) afirmou que os transplantes de órgãos e tecidos seguem protocolos rigorosos e critérios técnicos definidos pelo Ministério da Saúde.

O Hospital Albert Einstein, onde Geraldo Junior foi atendido, esclareceu que não realizou o atendimento ou análise do doador. A instituição apenas acompanhou Geraldo Junior durante a transplante e após o procedimento.

Casos Raros, mas Possíveis

A transmissão de câncer em doação de órgão é um evento muito raro, com incidência inferior a 0,03%, segundo especialistas. No entanto, esses casos podem ocorrer, por isso é essencial que o paciente esteja ciente desses riscos antes do procedimento.

Paulo Hoff, oncologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), reforça que, apesar da triagem rigorosa dos órgãos doados, tumores ocultos ou micrometástases microscópicas podem não ser detectados pelos métodos de rotina.

Por mais que a doadora tenha tido câncer em algum momento da vida, este fato não foi identificado durante o processo de doação e transplante, trazendo consequências devastadoras para Geraldo Junior.