Empresas comercializam informações confidenciais do INSS por até R$ 600, aponta reportagem.

Comercialização Ilegal de Dados do INSS no Brasil

Listas detalhadas de beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), contendo informações sensíveis como nome completo, CPF, endereço, valor do benefício e histórico de empréstimos, estão sendo vendidas ilegalmente no Brasil. Empresas lucram centenas de reais por pacotes dessas informações. Essa prática, destacada em uma reportagem da CNN Brasil na última segunda-feira (2), representa uma grave violação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e gera preocupações sobre a segurança dos dados de milhões de aposentados e pensionistas.

Empresas Visam Advogados com Listas de Dados

As empresas vendem essas listas principalmente para advogados que buscam clientes que sofreram descontos indevidos, com o objetivo de abrir processos. Os preços das listas variam de R$ 150 a R$ 600, dependendo da quantidade de nomes ou da especificidade da localização. Por exemplo, 500 nomes são vendidos por R$ 150, enquanto dados de beneficiários de todo um estado podem custar até R$ 600.

As tabelas oferecidas contêm filtros detalhados por descontos de associação, especificando a entidade, valores das parcelas e datas de início do pagamento. Além disso, são comercializados dados restritos ao sistema do INSS e Dataprev, como data de início da aposentadoria ou pensão, margem disponível para consignados e contratos de empréstimos ativos. Os dados comercializados pertencem a aposentados e pensionistas de todos os estados brasileiros.

Investigação da CNN Brasil Confirma a Veracidade dos Dados

A reportagem da CNN Brasil simulou a compra de dados de uma das empresas, a Nexus Soluções em Assessoria Jurídica, e confirmou a veracidade das informações ao verificar com duas aposentadas e uma pensionista de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Foi constatado também que pelo menos três advogados em três estados diferentes têm acesso a essas listas.

Em diálogo com o vendedor de uma dessas empresas, a origem dos dados foi explicada de maneira alarmante: “Temos uma equipe responsável pela captação e depois apura os dados com um pessoal dentro da previdência”. Essa declaração sugere a possível participação de agentes internos no sistema previdenciário, indicando uma falha grave na segurança e integridade das informações do INSS e Dataprev.

OAB Condena Uso de Dados Obtidos Ilegalmente

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) proíbe o uso de dados obtidos ilegalmente. O artigo 39 do Código de Ética e Disciplina da OAB afirma que “a publicidade profissional do advogado tem caráter meramente informativo e deve primar pela discrição e sobriedade, não podendo configurar captação de clientela ou mercantilização da profissão”. A prática de adquirir listas de beneficiários para prospectar clientes vai diretamente contra esse princípio.

Quando questionada pela CNN Brasil sobre a obtenção dos dados, a violação das leis brasileiras e o temor de investigações ou punições, a Nexus Soluções em Assessoria Jurídica respondeu de forma evasiva: “Nem vou perder meu tempo com quem não tem conhecimento”. A resposta demonstra a aparente falta de preocupação da empresa com as implicações legais de suas atividades.

Necessidade Urgente de Reforço na Segurança de Dados

A comercialização ilegal de dados de beneficiários do INSS destaca a vulnerabilidade de informações pessoais sensíveis e a necessidade urgente de reforçar a segurança e a fiscalização dos sistemas governamentais, garantindo a proteção da privacidade dos cidadãos conforme estabelecido pela LGPD. As autoridades competentes, incluindo o Ministério Público e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), devem investigar rigorosamente essas práticas para coibir o crime e responsabilizar os envolvidos.

Fonte: https://gazetabrasil.com.br/governo/2025/06/02/empresas-vendem-dados-sigilosos-do-inss-por-ate-r-600-revela-reportagem/