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Príncipe Andrew em evento de Natal na Inglaterra

O Declínio Real: Príncipe Andrew Perde Títulos e Enfrenta Futuro Incerto Após Escândalo Epstein

Até bem pouco tempo, a vida de Andrew era definida por uma sucessão de grandiosos títulos: Príncipe, Duque de York, Conde de Inverness e Barão de Killyleagh, Cavaleiro Grã-Cruz da Real Ordem Vitoriana e Cavaleiro Real Companheiro da Nobilíssima Ordem da Jarreteira. Essas honrarias não eram meros adereços, mas sim o selo de sua posição como filho da rainha Elizabeth II e irmão do então príncipe, agora rei Charles III, conferindo-lhe um status elevado e uma identidade inquestionável dentro da hierarquia real britânica.

Contudo, a realidade de Andrew Mountbatten Windsor sofreu uma reviravolta dramática. Após anos de controvérsia e um escândalo crescente que abalou a reputação da monarquia, o Palácio de Buckingham anunciou uma decisão sem precedentes na noite de uma quinta-feira fatídica: o Rei Charles III havia iniciado formalmente o processo para destituir seu irmão de todas as suas honrarias e títulos reais. Além disso, Andrew seria despejado da Royal Lodge, a opulenta propriedade real em Windsor que chamava de lar.

Essa medida marca o ponto culminante da desgraça pública de Andrew, uma queda livre precipitada por seus profundos e perturbadores laços com o criminoso sexual condenado Jeffrey Epstein. A notícia, que reverberou por todo o Reino Unido e além, ganhou contornos ainda mais concretos na manhã seguinte, quando o nome de Andrew foi silenciosamente removido do registro oficial da nobreza. Este foi um passo crucial e simbólico na formalização de sua perda de status.

Enquanto a família real esperava que essa ação decisiva pudesse finalmente silenciar o escândalo que se arrastava há anos, novas e inevitáveis perguntas surgiram. Onde Andrew, aos 65 anos, estabeleceria sua nova residência? Enfrentaria ele mais problemas legais? E, talvez o mais importante, esse banimento sem precedentes seria suficiente para apaziguar a opinião pública britânica, que há muito exigia uma responsabilização mais severa? As respostas para essas questões complexas começam a surgir, mas o caminho à frente de Andrew permanece repleto de incertezas.

O Novo Lar de Andrew: Sandringham

A primeira grande questão a ser respondida após a dramática decisão do rei Charles III foi sobre a moradia de Andrew. Fontes próximas à família real confirmaram que Andrew não ficaria sem um teto, mas seria realocado para uma casa na vasta propriedade privada de Sandringham, localizada em Norfolk, Inglaterra. Sandringham é uma das residências privadas da monarquia britânica, estendendo-se por cerca de 8.000 hectares e compreendendo aproximadamente 150 imóveis, muitos dos quais são arrendados.

Historicamente, Sandringham detém um lugar especial no coração da família real, sendo o local tradicional onde seus membros se reúnem para celebrar o Natal. No entanto, o anúncio de sua realocação veio acompanhado de um detalhe significativo: Andrew já havia sido discretamente informado, antes da decisão do Rei, de que sua presença não seria bem-vinda na residência principal durante as festividades natalinas. Essa exclusão prévia já sinalizava uma crescente distância e desaprovação.

A mudança para Sandringham não será imediata. O processo burocrático, que inclui a notificação formal, a preparação de um novo contrato de arrendamento e a organização da mudança de seus pertences da Royal Lodge, levará algum tempo. Estima-se que Andrew não se mude para sua nova residência até depois do período festivo do Natal, permitindo um tempo para a transição e para que a família real celebre suas tradições sem a presença perturbadora do ex-príncipe.

A Royal Lodge, em contraste com a moradia mais modesta que Andrew ocupará em Sandringham, era uma residência imponente com 30 quartos, situada dentro do Parque de Windsor. Andrew havia gasto milhões de libras de seu próprio dinheiro para reformar a propriedade, um investimento que agora se perde em meio à sua desgraça. A mudança para Sandringham simboliza não apenas uma realocação física, mas uma clara degradação de seu status e acesso aos privilégios reais mais proeminentes.

O Futuro Financeiro de Andrew: Uma Renda Misteriosa

A situação financeira de Andrew tem sido um tópico de intensa especulação e mistério por muitos anos. Antes de seu afastamento das funções públicas, precipitado por uma desastrosa entrevista à BBC Newsnight em 2019 que expôs ainda mais seus laços com Epstein, Andrew recebia uma mesada anual considerável. Relatos da imprensa britânica apontavam para um montante de aproximadamente £1 milhão (cerca de US$ 1,3 milhão) fornecido pela falecida rainha Elizabeth II. Esses pagamentos, que representavam uma parte significativa de seus recursos, teriam continuado por um tempo sob o reinado de Charles.

No entanto, foi apurado que o Rei Charles III decidiu, em algum momento, interromper essa generosa mesada. Embora destituído de seu título de príncipe e de outras prerrogativas, confirmou-se que Andrew ainda receberá uma renda de Charles, mas o valor exato permanece não divulgado. Essa renda, no entanto, deve ser significativamente menor do que ele estava acostumado a receber, refletindo sua nova posição de “exilado” real.

Sua única fonte de renda publicamente declarada é a pensão que Andrew recebe por seus 22 anos de serviço na Marinha Real, entre 1979 e 2001. Estima-se que essa pensão anual seja de aproximadamente £20.000 (cerca de US$ 26.000), um valor modesto para alguém que um dia desfrutou dos luxos da realeza. A falta de transparência sobre as finanças de Andrew sempre alimentou rumores e críticas, especialmente em relação à sua capacidade de manter um estilo de vida que parecia incompatível com sua renda declarada. A dependência contínua de um subsídio real, mesmo que reduzido, ainda é um ponto sensível para o público britânico.

A Linha de Sucessão: Um Legado Intocável (Por Enquanto)

Apesar de ter perdido seus títulos, status e honrarias, a complexa legislação britânica sobre a sucessão ao trono garante que Andrew ainda mantenha sua posição na linha de sucessão. Atualmente, ele ocupa o oitavo lugar, atrás dos filhos do Rei Charles III (William e Harry) e seus respectivos filhos. Embora sua remoção formal da vida pública real seja quase completa, sua posição na linha sucessória é um elemento mais difícil de ser alterado.

Existe um processo legal para removê-lo formalmente da linha de sucessão, mas este é um empreendimento complexo e demorado. Exige a aprovação e o consentimento de todas as nações da Commonwealth que reconhecem o monarca britânico como seu chefe de estado. A última vez que esse protocolo foi invocado foi em 1936, com a abdicação de Eduardo VIII, um evento que marcou profundamente a história da monarquia e demonstrou a complexidade de alterar as regras de sucessão. A relutância em repetir tal processo para Andrew reflete a magnitude da tarefa e o desejo de evitar um precedente que poderia ser visto como um precedente político para futuras remoções.

O Impacto na Família do Ex-Príncipe

A vida de Andrew e Sarah Ferguson, sua ex-esposa, sempre foi marcada por uma peculiaridade. Embora tenham se divorciado em 1996, o casal continuou a viver junto na Royal Lodge em Windsor desde 2008, mantendo uma convivência que desafiava as convenções. Com a decisão do rei Charles, Sarah Ferguson também será afetada. Ela já havia voltado a usar seu nome de solteira no início do mês, um indicativo de que Andrew estava renunciando ao uso de seus títulos reais, incluindo o de Duque de York.

Sarah também se mudará da Royal Lodge e fará seus próprios arranjos de moradia. Foi entendido que ela não se juntará a Andrew em sua nova casa em Sandringham, marcando o fim de sua coabitação e, para muitos, um ponto final simbólico em sua história como um casal (mesmo que divorciado) vivendo sob o mesmo teto real. Suas filhas, a princesa Beatrice, de 37 anos, e a princesa Eugenie, de 35, não são membros ativos da realeza em tempo integral. De acordo com uma diretriz emitida pelo rei George V em 1917, elas manterão seus títulos como filhas de um filho de um soberano.

Beatrice vive com seu marido, Edoardo Mapelli Mozzi, em Cotswolds, a cerca de 160 km de Londres, mas mantém um apartamento no Palácio de St. James na capital. Eugenie e seu marido, Jack Brooksbank, possuem uma casa nos terrenos do Palácio de Kensington, mas dividem seu tempo com estadias no exterior. A situação de moradia de Beatrice e Eugenie não será afetada pelo exílio de seu pai, pois elas já estabeleceram suas vidas independentemente das obrigações reais diretas, o que as protege de serem diretamente atingidas pela queda de Andrew.

Andrew Sob o Olhar do Parlamento?

Apesar das ações da monarquia, a controvérsia em torno de Andrew está longe de ser encerrada. O partido Liberal Democrata, uma das principais forças de oposição no Reino Unido, tem pressionado o governo para que Andrew preste depoimento a um comitê parlamentar. O foco principal seria suas finanças, especialmente o possível aluguel pago para residir na Royal Lodge e a origem de sua riqueza.

Até o momento, o governo do primeiro-ministro Keir Starmer tem se recusado a ceder tempo aos membros do parlamento para debater abertamente as finanças de Andrew. Isso ocorre apesar do crescente clamor público por uma investigação mais aprofundada e transparente. A falta de ação governamental, para muitos, apenas alimenta a percepção de que Andrew está sendo protegido ou que há informações que a Coroa ou o governo preferem manter em sigilo.

Em um desenvolvimento mais recente, Geoffrey Clifton-Brown, um parlamentar conservador e presidente do influente Comitê de Contas Públicas, enviou uma carta aos comissários da Crown Estate. Na correspondência, ele solicitou informações detalhadas sobre os acordos de arrendamento de Andrew para a Royal Lodge. “O comitê é responsável por garantir o melhor valor para o dinheiro dos contribuintes”, escreveu Clifton-Brown, justificando o pedido. “E, como tal, consideramos razoável buscar mais informações sobre o status e a justificativa do arrendamento da Royal Lodge.” Esta iniciativa parlamentar demonstra que, mesmo sem uma intervenção governamental direta, a pressão por transparência e responsabilização em relação aos bens públicos e às finanças de Andrew não diminuiu.

Novos Desafios Legais no Horizonte?

Ainda que Andrew tenha resolvido um processo civil milionário, a sombra da justiça ainda o persegue. O Republic, um grupo ativista que milita pela abolição da monarquia britânica, declarou publicamente que está buscando uma ação judicial privada contra Andrew. A motivação do grupo é clara: “se o governo e a polícia não o responsabilizarem, nós o faremos.”

O Republic afirmou ter instruído advogados a investigar a fundo e, se as evidências permitirem, iniciar uma ação penal privada. Essa ação visaria alegações de crimes sexuais e má conduta em cargo público. Essas alegações remontam às acusações de Virginia Giuffre, uma das principais acusadoras de Jeffrey Epstein e seu círculo. Giuffre alegou que Andrew teve relações sexuais com ela três vezes quando ela era menor de idade, sublinhando a gravidade das acusações. Em suas memórias recentes, publicadas postumamente, Giuffre escreveu que Andrew “acreditava que ter relações sexuais com ela era seu direito de nascença”, revelando a percepção de poder e impunidade que ela sentia por parte dele.

Apesar de consistentemente negar todas as alegações contra ele, Andrew pagou milhões de dólares a Giuffre em 2022 para resolver o processo civil que ela havia movido. O acordo, embora não uma admissão de culpa, foi amplamente interpretado como uma forma de evitar um julgamento público potencialmente devastador. A morte de Virginia Giuffre por suicídio em abril adiciona uma camada de tragédia e complexidade a todo o caso, mas o desejo por justiça por parte de grupos ativistas permanece inabalável.

Será Suficiente para o Público Britânico?

A questão final e mais difícil de responder é se todas essas medidas – a remoção de títulos, o despejo da Royal Lodge e o corte de privilégios – serão suficientes para apaziguar a opinião pública britânica. Andrew é, sem dúvida, um dos membros mais impopulares da família real. Uma pesquisa publicada recentemente pelo YouGov revelou dados impressionantes: 91% dos britânicos expressaram uma opinião negativa sobre Andrew, com apenas 4% tendo uma visão positiva. Em contraste, figuras como o Príncipe William (76% de aprovação) e o próprio Rei Charles (62% de aprovação) gozam de uma imagem muito mais favorável, e a monarquia como instituição mantém uma aprovação geral de 56%.

Desde que a queda de Andrew em desgraça se intensificou após sua entrevista desastrosa em 2019, a família real tem tentado repetidamente encerrar o escândalo. Primeiro, com seu afastamento da vida pública; depois, removendo seus títulos militares e patronatos; em seguida, cortando seu suporte financeiro; e, mais recentemente, fazendo-o renunciar a alguns de seus títulos. Agora, a ação do Rei de expulsá-lo definitivamente do palácio como um pária representa a medida mais drástica até o momento.

No entanto, nenhuma dessas “punições” parece ter conseguido acalmar a profunda indignação pública. Resta saber se esta última e mais severa ação fará alguma diferença. Muitos argumentam que o escândalo de Andrew se arrastou por tanto tempo precisamente porque, para o público, as consequências que ele enfrentou não parecem proporcionais às alegações graves. Embora a perda de seus títulos e de sua residência preferida possa ser uma tragédia pessoal para Andrew, isso gera pouca simpatia de um público que exige uma responsabilização genuína, que vá além das convenções reais.

“Não importa se ele é o Príncipe Andrew ou Andrew Mountbatten Windsor – ainda estamos buscando uma ação judicial privada contra ele”, afirmou o grupo Republic, reforçando a ideia de que, para muitos, as ações da monarquia são apenas o começo, e não o fim, da busca por justiça.

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